05/04/2022 às 18h43

Classes hospitalares proporcionam acompanhamento educacional a crianças internadas

Atualmente há sete professores dando aulas para estudantes que passam por tratamento de saúde na rede pública

JURANA LOPES, DA AGÊNCIA SAÚDE-DF | EDIÇÃO: MARGARETH LOURENÇO | REVISÃO: JULIANA SAMPAIO

 

 

Focar na humanização para não causar prejuízo na vida escolar das crianças. Essa é a finalidade das Classes Hospitalares, parceria da Secretaria de Saúde com a Pasta de Educação, que disponibiliza professores nos hospitais da rede pública para acompanhar os estudantes internados.

 

Atualmente, são cedidos à Secretaria de Saúde sete professores para as Classes Hospitalares. São eles: uma professora no Hospital da Região Leste (HRL, antigo Hospital do Paranoá), três no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), uma no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), uma no Hospital Regional de Sobradinho (HRS) e, ainda, uma professora no Hospital de Base (HBDF).

 

As secretarias de Saúde e de Educação atuaram juntas durante muitos anos por convênio para manter as Classes Hospitalares. No ano passado, foi assinada a Portaria Conjunta nº 9, que prevê o atendimento educacional hospitalar e a destinação de até 15 professores para atuar onde exista pediatria.

 

 

Segundo Iêdes Braga, chefe da Unidade de Gestão Articuladora da Educação Básica da Secretaria de Educação, todas as atividades já foram instituídas. Foi estabelecido um plano de trabalho e há um comitê gestor responsável pelos acompanhamento e controle das atividades a serem desenvolvidas. O comitê foi instituído também por portaria, com representantes das duas pastas. A presidência é da Secretaria de Educação.

 

Após a publicação da portaria foi feito um edital de chamamento para os professores interessados, via análise curricular. “Queremos alcançar outros hospitais além dos que já têm atendimento, principalmente o Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). A parceria prevê o envio de professores pedagogos, pois é voltada para crianças matriculadas na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental”, destaca Iêdes Braga.

 

A portaria prevê atendimento das Classes Hospitalares nos hospitais regionais da Asa Norte (Hran), de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), do Gama (HRG), de Planaltina (HRPl), de Sobradinho (HRS), de Brazlândia (HRBz), de Samambaia (HRSam), além do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Hospital da Região Leste (HRL) e Hospital da Criança de Brasília (HCB). O envio de professores é feito de acordo com a demanda à Secretaria de Educação.

 

Satisfação para crianças internadas no HRC

 

A supervisora de Enfermagem da Pediatria do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), Carmen Belmar Rocha, destaca que as aulas para as crianças internadas fazem toda a diferença. “Elas ficam animadas, mudam o foco por fazer atividades do cotidiano delas. Além disso, reagem melhor ao tratamento, a recuperação é mais rápida”, observa.

 

A profissional relata que antes da pandemia, as aulas da Classe Hospitalar do HRC ocorriam na brinquedoteca, hoje, é à beira dos leitos. A professora passa atividades de acordo com a idade e a série bem como faz contato com a escola da criança para que envie os conteúdos pendentes. Além da atividade escolar, há os momentos de atividades pedagógicas com brincadeiras e fantoches, o que torna a rotina no hospital mais leve e humanizada.

 

“As crianças amam a hora da aula, conversam entre elas, mesmo que de longe. Algumas passam tanto tempo internadas que quando recebem alta hospitalar pedem pra comemorar o aniversário aqui dentro com a equipe, a professora e os coleguinhas que seguem internados”, conta Carmen.

 

Letícia Gontijo é mãe do Pablo Eduardo, de 6 anos. Ele ficou internado no Hospital Regional de Ceilândia por um mês e teve todo o acompanhamento escolar feito pela professora da Classe Hospitalar da unidade. “Eu nem sabia que havia esse atendimento para as crianças. Achei ótima a iniciativa, já que ele não ficou prejudicado nas atividades da escola porque era acompanhado de perto. Amava a hora da aula e de brincar”, conta.

 

 

Humanização no Hmib

 

No Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), a Classe Hospitalar funciona há mais de quatro décadas. Antes da pandemia, as aulas eram oferecidas em uma sala de aula, repleta de material didático e pedagógico, para deixar as crianças bem à vontade.

 

“Passar por um tratamento de saúde durante a infância não é nada fácil. Além de o hospital ser um ambiente hostil para a criança, muitas vezes, o diagnóstico requer uma internação mais prolongada, podendo causar prejuízo na vida escolar”, explica Caren Queiroz, uma das professoras da Classe Hospitalar do Hmib.

 

Com o início da pandemia, as aulas foram suspensas por três meses. Quando foram retomadas, o acompanhamento passou a ser nos leitos, de maneira individual, tendo em vista que o Hmib também atende crianças com Covid-19. Em um primeiro momento, as três professoras que atuam ali conversam com a criança e com a família para identificar qual é a série do estudante, onde estuda, e planejar a rotina com a família, respeitando o quadro clínico.

 

A professora Maria Denise Volkmer faz parte da Classe Hospitalar do Hmib há 18 anos e destaca que o atendimento também engloba os pacientes de outros estados. O principal objetivo é levar humanização ao tratamento e contribuir para a escolarização.

 

As educadoras da unidade relatam que as crianças ficam bem mais receptivas ao tratamento, aceitam melhor os procedimentos médicos e demonstram animação quando estão estudando. Por conta disso, elas sempre recebem um kit com atividades no primeiro contato das educadoras.

 

A professora Érika Gomides, também da Classe Hospitalar do Hmib, destaca que o atendimento contribui para o retorno à rede regular de ensino. “O tempo de internação, às vezes, pode ser muito longo. Também há crianças com doenças crônicas, que voltam para internação com frequência. Fazemos um trabalho com a família e a escola para que essa criança não perca o ano e não desista de aprender, mesmo passando por um momento de dificuldade”, diz a educadora.

 

Maria de Jesus Souza é mãe do Cristian, de 8 anos. Ela se surpreendeu com a rapidez das professoras em dar suporte ao filho, internado há uma semana no Hmib. “Achei maravilhoso, pois assim ele não ficará atrasado e nem acumulará atividades para fazer quando receber alta”.

 

 

Brinquedoteca

 

No Hospital da Região Leste a pedagoga Amanda Cruz é quem comanda a Classe Hospitalar. São atendidas, atualmente, cerca de 14 crianças. Ela passa nas enfermarias pediátricas e conversa com as famílias para pegar contato das escolas e receber atividades.

 

“Trabalhamos não só o ensino pedagógico, mas também o lúdico e isso faz com que a criança fique feliz, tirando o foco da dor e do tratamento. As crianças ficam mais contentes, animadas e têm até alta precoce em alguns casos”, observa a professora. As aulas voltarão a ocorrer de maneira coletiva a partir da próxima semana na brinquedoteca do hospital, como era antes da pandemia. Na beira do leito, serão atendidos somente os estudantes com alguma dificuldade de locomoção.

 

Dilvina Andrade é avó de Elloisy, de 12 anos. Ela está internada desde a semana passada no HRL. Depois que a professora entrou em contato com a escola da garota, já solicitou à equipe de enfermagem a mudança do acesso da mão da menina para o lado esquerdo. Assim ela consegue fazer os trabalhos enviados pela escola.

 

“Eu não sabia que tinha aula nos hospitais e o melhor é que ela não perde conteúdo e nem fica atrasada com relação à turma, porque o atestado só justifica a falta. Aqui ela está tendo todo um auxílio da professora”, informa.

 

Para Rayanne Rodrigues, supervisora de Enfermagem da Clínica Pediátrica do HRL, o apoio escolar que os pequenos pacientes recebem durante o período de internação faz muita diferença. “Trabalhar não só o educacional, mas o lúdico facilita a aceitação das intervenções da equipe médica e também no emocional. Se já é difícil para o adulto ficar internado, para a criança isso é muito pior e mais impactante”, conclui.