Seminário destaca ações integradas para mitigar impactos dos agrotóxicos na saúde e no ambiente
Seminário destaca ações integradas para mitigar impactos dos agrotóxicos na saúde e no ambiente
Secretaria de Saúde e Fiocruz promovem II Seminário de Agricultura Urbana e Periurbana com foco na vigilância em saúde e agroecologia
Michele Horovits, da Agência Saúde | Edição: Fabyanne Nabofarzan
Nos dias 12 e 13 de maio, a Fiocruz Brasília sediou o II Seminário de Agricultura Urbana e Periurbana no Distrito Federal, com o tema “Vigilância em Saúde e o Desenvolvimento de Ações Intersetoriais de Prevenção e Mitigação dos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente”. O objetivo principal do evento foi ampliar o debate sobre os efeitos dos defensivos agrícolas na saúde humana e no meio ambiente, promovendo a articulação intersetorial entre instituições e saberes para o desenvolvimento de ações conjuntas e sustentáveis.
O seminário reuniu cerca de 170 participantes, entre especialistas, gestores públicos, profissionais de saúde, representantes de órgãos do Governo do Distrito Federal (GDF), movimentos sociais e pesquisadores de todo o país.

“Promover esse encontro entre a vigilância do uso abusivo de agrotóxicos, suas implicações na saúde e o papel da promoção e assistência no SUS, sobretudo no contexto das mudanças climáticas, é um grande avanço. Brasília está caminhando para se consolidar como a capital da agroecologia no Brasil, desde que as políticas públicas fortaleçam cada vez mais a atuação intersetorial entre governo e sociedade civil”, destacou Marcos Trajano, médico de Saúde da Família e gerente de Práticas Integrativas em Saúde da SES-DF.
O secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, Gutemberg Gomes, participou da abertura e destacou a relevância do seminário. Segundo ele, a iniciativa é extremamente importante por promover não apenas a agricultura sustentável, mas também o cuidado com o meio ambiente e a valorização do território. “É fundamental dialogar com os produtores rurais da cidade. Um seminário como este contribui para a inclusão, mas também fortalece a educação ambiental”, ressaltou.

Integração
Durante o seminário, foi enfatizado o papel das instituições públicas na construção de uma agenda de enfrentamento aos impactos dos agrotóxicos, especialmente no contexto urbano e periurbano, onde a agricultura de base agroecológica tem sido fortalecida como estratégia de promoção da saúde.
A programação contou com mesas temáticas, exposições de experiências regionais e debates técnicos. Um dos destaques foi a palestra do médico, professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (Neast) da Universidade Federal de Mato Grosso, Wanderlei Pignati, referência nacional em estudos sobre os impactos dos defensivos agrícolas, que abordou os vínculos entre o uso intensivo dessas substâncias e o aumento de doenças como câncer, distúrbios neurológicos e malformações congênitas.
De acordo com o professor, em 2024, a área agrícola do DF, principalmente em Planaltina e Paranoá, consumiu cerca de 11 milhões de litros de agrotóxicos por safra, predominando soja e milho transgênicos. Esse consumo representa um aumento de mais de 140% em comparação com o período entre 2000 e 2019. "A agricultura brasileira tem um alto consumo de agrotóxicos, com cerca de 5 kg por pessoa, o que representa um consumo anual de mais de 1 milhão de toneladas", disse.

Saúde
A gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Planaltina, Sandra Fernandes, também participou do evento e destacou a importância da iniciativa para o fortalecimento das ações em saúde no território:
“Temos uma agrofloresta na nossa unidade, recentemente revitalizada, que é um espaço de promoção e educação em saúde. Participar deste seminário nos ajuda a cuidar melhor desse local e a orientar a população quanto aos riscos do uso de agrotóxicos”, explicou. Ela também reforçou o compromisso com práticas sustentáveis: “Lá, não usamos nenhum tipo de veneno. Trabalhamos apenas com compostagem orgânica, restos de poda e apoio de parceiros como a Novacap e a Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal]”, explicou.
A iniciativa é promovida pela Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (Rhamb), vinculada ao Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília, em parceria com a Secretaria de Saúde (SES-DF), no âmbito do projeto Colab-PIS. O seminário conta ainda com o apoio dos Ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.