24/08/2023 às 11h23

Às vésperas do Dia D da Campanha de Multivacinação, DF lembra a história e a importância das vacinas

Neste sábado, 26 de agosto, às 9 horas, será lançada a iniciativa nacional no Zoológico de Brasília. Cerca de 90 locais estarão abertos para imunizar a população

Agência Saúde*

A vacina é algo corriqueiro na vida – e no braço – de brasilienses de todas as idades, mas nem sempre essa foi a realidade. Uma capital nova, planejada, Brasília viveu, desde sua fundação, diversos momentos da construção de estratégias de imunização no país. De pistolinhas braço a braço no passado às fake news e ao negacionismo na pandemia de covid-19, a capital da República testemunhou o nascimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do primeiro calendário de vacinação brasileiro, nos anos 1970.

Para seguir protegendo a população em todos os momentos, a cidade segue exemplo na promoção de ações contínuas para ampliar a cobertura vacinal. Neste sábado, 26 de agosto, às 9h, o Zoológico de Brasília sedia o lançamento da Campanha Nacional de Multivacinação, que vai até 9 de setembro. No Dia D (26), mais de 90 pontos estarão abertos.

No Zoológico, a entrada será gratuita para quem levar o cartão de vacinação para se imunizar no local. Haverá oferta de imunizantes contra doenças como hepatite, meningite, pólio, pneumonia, febre amarela, varicela, HPV, difteria, tétano, covid-19 e gripe, entre outras. Vale destacar que a pasta dispõe de pontos de vacinação de segunda a sexta e nos fins de semana, para que pessoas sem disponibilidade em dias úteis também tenham a oportunidade de se imunizar aos sábados e domingos.

Vacinação no Zoológico de Brasília. Foto: Tony Winston/Arquivo/Agência Saúde-DF

Memória

Para destacar o Dia D da campanha e alertar para os baixos índices atuais de cobertura vacinal em todo o Brasil, é importante relembrar alguns momentos históricos da vacinação e da trajetória dessas pequenas doses que salvam vidas e que, ao longo da história, têm sido protagonistas na redução expressiva de doenças no Brasil, como a febre amarela, ou até mesmo na erradicação, casos da poliomielite e da varíola.

A história da vacina, no Brasil, começou há mais de 200 anos, com a obrigatoriedade de se vacinar estabelecida, em 1804, pelo governo da época. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3 milhões de vidas são poupadas por ano graças à vacinação. Mas, afinal, como era o mundo antes desses imunizantes?

No século 19, a expectativa de vida no mundo não passava dos 32 anos. De acordo com dados divulgados pela OMS neste ano, a população mundial vive atualmente, em média, 73,3 anos, ou seja, a expectativa de vida aumentou em 129% em comparação com o século 19.

Além das políticas públicas desenvolvidas, ao longo dos anos, para democratizar o acesso à saúde, a tecnologia tem papel fundamental para estimular a qualidade de vida dos brasileiros. A vacina, por exemplo, representa um avanço na ciência capaz de salvar 3 milhões de vidas por ano, em mortes evitadas por imunizantes contra poliomielite, difteria, tétano, coqueluche, sarampo e gripe, segundo estimativa da OMS.

Criação da vacina

A primeira vacina da história foi desenvolvida, em 1796, pelo inglês e médico rural Edward Jenner. À época, o imunizante protegia contra a varíola, uma das doenças mais letais da história. Ela matou mais de 300 milhões de pessoas no século 20 e foi erradicada em 1980. A OMS estima que mais de cinco milhões de vidas são salvas anualmente com a extinção da doença devido à vacinação.

Foi em 1804 que começou a história da vacinação no Brasil, antes da chegada da corte portuguesa. Naquela época, a imunização ocorria pelo chamado “braço a braço”. Os escravos eram enviados para países europeus para tomarem as primeiras doses de imunizantes e, a partir dos anticorpos produzidos pelo organismo desses vacinados, eram feitas novas vacinas para imunizar o restante da população.

Em 1806, a vacinação passou a ser obrigatória em algumas regiões do Brasil, mas, mesmo assim, não era levada muito a sério pela população. Somente em 1832 que se tornou obrigatória para todos os habitantes do império. Este período foi marcado pela Revolta da Vacina — quando aconteceu uma rebelião popular contra a obrigatoriedade da vacina decretada pelo Estado.

Após cinco dias de rebelião, a Revolta da Vacina deixou um saldo de 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, segundo o Centro Cultural do Ministério da Saúde. Somente após esses episódios que o cenário mudou, a partir do século 20, no Brasil. A história da vacina foi construída no país por pioneiros como Adolpho Lutz, Vital Brazil e Oswaldo Cruz — protagonista importante na luta contra a febre amarela urbana, que teve seu último caso registrado no país em 1942.

Tecnologia

Criada para agilizar o processo de vacinação em grandes grupos de pessoas, a pistola de vacinação foi inventada por médicos militares norte-americanos em meados de 1950. A pistola era um equipamento portátil que funcionava sob pressão de ar. Ao acionar um pedal, a alta pressão fazia com que a vacina ocorresse de forma percutânea (que atravessa a pele).

Vacinação contra varíola em Ceilândia, em 1973 | Foto: Arquivo Público

Este equipamento, apesar de temido por muitos, representou um avanço tecnológico e foi o responsável por, finalmente, erradicar a varíola nas Américas, em setembro de 1980.

“Uma das grandes transformações que vivemos é de que, antigamente, a gente não tinha material descartável para aplicar a vacina. Quem viveu naquela época relatava que não sabia nem se a aplicação era realizada por um profissional de saúde e muito menos se havia a esterilização do equipamento. Foi quando surgiram, em larga escala, as doenças como as hepatites e o HIV [Vírus da imunodeficiência humana]”, afirma a chefe do Núcleo da Rede de Frio da Secretaria de Saúde, Tereza Luiza Pereira.

Adesão à vacina

“Tivemos dois movimentos muito importantes aqui. Um foi o da vacinação contra a febre amarela, que fez a revolução da vacina em 1937. A outra foi a vacinação contra a poliomielite para conter a paralisia infantil. Essa doença deixou muitas crianças mortas ou sequeladas que vivem, até hoje, com paralisia. A vacina contra a poliomielite foi realmente uma das grandes vacinas lançadas, cuja adesão foi em massa porque os pais não queriam que os filhos tivessem aquela sequela”, explica Tereza.

Campanha de vacinação contra poliomielite em Brasília, quatro anos depois da inauguração da capital federal | Fotos: Arquivo Público

Em 1973, foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Três anos depois, o governo lançou o primeiro calendário de vacinação brasileiro, em 1978, que incluía a BCG, a poliomielite oral, a tríplice bacteriana e a vacina do sarampo. Em 1991 foi registrado o último caso de poliomielite no Brasil, na Paraíba, o que garantiu o certificado de eliminação da doença nas Américas, em 1994, após o último caso registrado no Peru.

Coronavírus

Depois de anos superadas as pandemias que avassalaram o mundo, como a da varíola e febre amarela, a tensão, o medo e a insegurança voltaram a apavorar a população com o aparecimento de um novo vírus responsável por milhões de mortes ao redor do mundo: a covid-19. O primeiro caso confirmado da doença no Distrito Federal foi em 7 de março de 2020. O GDF, diante do avanço do coronavírus, foi um dos primeiros a decretar toque de recolher, em 18 de março de 2020.

Até 5 de agosto deste ano, foram notificados no DF 911.135 casos confirmados de covid-19. Desse total, 898.964 (98,7%) pessoal estão recuperadas e 11.871 (1,3 %) evoluíram para óbito. Os casos fatais da doença começaram a frear somente após a criação da vacina, em 2021.

Em 2023, iniciou-se a vacinação bivalente contra o vírus. De acordo com a chefe do Núcleo da Rede de Frio da Secretaria de Saúde, Tereza Luiza Pereira, o acesso à informação de forma facilitada no mundo atual influencia na adesão à vacina.

“Antigamente, as pessoas tinham uma mortalidade muito alta. As pessoas viam a vacina como a solução para a morte. Isso é diferente do que tivemos com a covid. Naquela época, ninguém ficava perguntando qual era o laboratório, quem fez, de onde veio. Hoje em dia, as pessoas estão mais bem-informadas e elas acabam tendo mais curiosidade para tirar todas essas dúvidas, seja para o bem ou para o mal, como é o caso das fake news, que colocam a saúde de outros em risco”, compara.

Segundo Tereza, o movimento de vacinação contra a covid-19 teve muito mais impacto no início e, aos poucos, a adesão foi sendo enfraquecida pela população. “No início, as pessoas estavam com aquela percepção de risco, que era praticamente uma sentença de morte quem pegasse o vírus. Enquanto havia esse sentimento, a adesão era alta. Tanto é que a cobertura da primeira e segunda dose foi boa. Quando fomos adquirindo novas doses e a doença foi sendo controlada, justamente por causa da vacina, as pessoas perderam essa percepção de risco e a vacinação com as outras doses caiu bastante.”

Baixa cobertura

Em um cenário que repete a realidade nacional, na capital federal, com exceção da BCG (contra a tuberculose), todas as vacinas do calendário infantil estão abaixo da meta de 95% de cobertura para crianças de até um ano. Estima-se que a população do DF tenha, atualmente, 38 mil crianças de zero a 12 meses de idade, segundo projeção da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).

*Com informações da Agência Brasília