Às vésperas do Dia D da Campanha de Multivacinação, DF lembra a história e a importância das vacinas
Às vésperas do Dia D da Campanha de Multivacinação, DF lembra a história e a importância das vacinas
Neste sábado, 26 de agosto, às 9 horas, será lançada a iniciativa nacional no Zoológico de Brasília. Cerca de 90 locais estarão abertos para imunizar a população
Agência Saúde*
A vacina é algo corriqueiro na vida – e no braço – de brasilienses de todas as idades, mas nem sempre essa foi a realidade. Uma capital nova, planejada, Brasília viveu, desde sua fundação, diversos momentos da construção de estratégias de imunização no país. De pistolinhas braço a braço no passado às fake news e ao negacionismo na pandemia de covid-19, a capital da República testemunhou o nascimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do primeiro calendário de vacinação brasileiro, nos anos 1970.
Para seguir protegendo a população em todos os momentos, a cidade segue exemplo na promoção de ações contínuas para ampliar a cobertura vacinal. Neste sábado, 26 de agosto, às 9h, o Zoológico de Brasília sedia o lançamento da Campanha Nacional de Multivacinação, que vai até 9 de setembro. No Dia D (26), mais de 90 pontos estarão abertos.
No Zoológico, a entrada será gratuita para quem levar o cartão de vacinação para se imunizar no local. Haverá oferta de imunizantes contra doenças como hepatite, meningite, pólio, pneumonia, febre amarela, varicela, HPV, difteria, tétano, covid-19 e gripe, entre outras. Vale destacar que a pasta dispõe de pontos de vacinação de segunda a sexta e nos fins de semana, para que pessoas sem disponibilidade em dias úteis também tenham a oportunidade de se imunizar aos sábados e domingos.

Memória
Para destacar o Dia D da campanha e alertar para os baixos índices atuais de cobertura vacinal em todo o Brasil, é importante relembrar alguns momentos históricos da vacinação e da trajetória dessas pequenas doses que salvam vidas e que, ao longo da história, têm sido protagonistas na redução expressiva de doenças no Brasil, como a febre amarela, ou até mesmo na erradicação, casos da poliomielite e da varíola.
A história da vacina, no Brasil, começou há mais de 200 anos, com a obrigatoriedade de se vacinar estabelecida, em 1804, pelo governo da época. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3 milhões de vidas são poupadas por ano graças à vacinação. Mas, afinal, como era o mundo antes desses imunizantes?
No século 19, a expectativa de vida no mundo não passava dos 32 anos. De acordo com dados divulgados pela OMS neste ano, a população mundial vive atualmente, em média, 73,3 anos, ou seja, a expectativa de vida aumentou em 129% em comparação com o século 19.
Além das políticas públicas desenvolvidas, ao longo dos anos, para democratizar o acesso à saúde, a tecnologia tem papel fundamental para estimular a qualidade de vida dos brasileiros. A vacina, por exemplo, representa um avanço na ciência capaz de salvar 3 milhões de vidas por ano, em mortes evitadas por imunizantes contra poliomielite, difteria, tétano, coqueluche, sarampo e gripe, segundo estimativa da OMS.
Criação da vacina
A primeira vacina da história foi desenvolvida, em 1796, pelo inglês e médico rural Edward Jenner. À época, o imunizante protegia contra a varíola, uma das doenças mais letais da história. Ela matou mais de 300 milhões de pessoas no século 20 e foi erradicada em 1980. A OMS estima que mais de cinco milhões de vidas são salvas anualmente com a extinção da doença devido à vacinação.
Foi em 1804 que começou a história da vacinação no Brasil, antes da chegada da corte portuguesa. Naquela época, a imunização ocorria pelo chamado “braço a braço”. Os escravos eram enviados para países europeus para tomarem as primeiras doses de imunizantes e, a partir dos anticorpos produzidos pelo organismo desses vacinados, eram feitas novas vacinas para imunizar o restante da população.
Em 1806, a vacinação passou a ser obrigatória em algumas regiões do Brasil, mas, mesmo assim, não era levada muito a sério pela população. Somente em 1832 que se tornou obrigatória para todos os habitantes do império. Este período foi marcado pela Revolta da Vacina — quando aconteceu uma rebelião popular contra a obrigatoriedade da vacina decretada pelo Estado.
Após cinco dias de rebelião, a Revolta da Vacina deixou um saldo de 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, segundo o Centro Cultural do Ministério da Saúde. Somente após esses episódios que o cenário mudou, a partir do século 20, no Brasil. A história da vacina foi construída no país por pioneiros como Adolpho Lutz, Vital Brazil e Oswaldo Cruz — protagonista importante na luta contra a febre amarela urbana, que teve seu último caso registrado no país em 1942.
Tecnologia
Criada para agilizar o processo de vacinação em grandes grupos de pessoas, a pistola de vacinação foi inventada por médicos militares norte-americanos em meados de 1950. A pistola era um equipamento portátil que funcionava sob pressão de ar. Ao acionar um pedal, a alta pressão fazia com que a vacina ocorresse de forma percutânea (que atravessa a pele).

Este equipamento, apesar de temido por muitos, representou um avanço tecnológico e foi o responsável por, finalmente, erradicar a varíola nas Américas, em setembro de 1980.
“Uma das grandes transformações que vivemos é de que, antigamente, a gente não tinha material descartável para aplicar a vacina. Quem viveu naquela época relatava que não sabia nem se a aplicação era realizada por um profissional de saúde e muito menos se havia a esterilização do equipamento. Foi quando surgiram, em larga escala, as doenças como as hepatites e o HIV [Vírus da imunodeficiência humana]”, afirma a chefe do Núcleo da Rede de Frio da Secretaria de Saúde, Tereza Luiza Pereira.
Adesão à vacina
“Tivemos dois movimentos muito importantes aqui. Um foi o da vacinação contra a febre amarela, que fez a revolução da vacina em 1937. A outra foi a vacinação contra a poliomielite para conter a paralisia infantil. Essa doença deixou muitas crianças mortas ou sequeladas que vivem, até hoje, com paralisia. A vacina contra a poliomielite foi realmente uma das grandes vacinas lançadas, cuja adesão foi em massa porque os pais não queriam que os filhos tivessem aquela sequela”, explica Tereza.

Em 1973, foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Três anos depois, o governo lançou o primeiro calendário de vacinação brasileiro, em 1978, que incluía a BCG, a poliomielite oral, a tríplice bacteriana e a vacina do sarampo. Em 1991 foi registrado o último caso de poliomielite no Brasil, na Paraíba, o que garantiu o certificado de eliminação da doença nas Américas, em 1994, após o último caso registrado no Peru.
Coronavírus
Depois de anos superadas as pandemias que avassalaram o mundo, como a da varíola e febre amarela, a tensão, o medo e a insegurança voltaram a apavorar a população com o aparecimento de um novo vírus responsável por milhões de mortes ao redor do mundo: a covid-19. O primeiro caso confirmado da doença no Distrito Federal foi em 7 de março de 2020. O GDF, diante do avanço do coronavírus, foi um dos primeiros a decretar toque de recolher, em 18 de março de 2020.
Até 5 de agosto deste ano, foram notificados no DF 911.135 casos confirmados de covid-19. Desse total, 898.964 (98,7%) pessoal estão recuperadas e 11.871 (1,3 %) evoluíram para óbito. Os casos fatais da doença começaram a frear somente após a criação da vacina, em 2021.
Em 2023, iniciou-se a vacinação bivalente contra o vírus. De acordo com a chefe do Núcleo da Rede de Frio da Secretaria de Saúde, Tereza Luiza Pereira, o acesso à informação de forma facilitada no mundo atual influencia na adesão à vacina.
“Antigamente, as pessoas tinham uma mortalidade muito alta. As pessoas viam a vacina como a solução para a morte. Isso é diferente do que tivemos com a covid. Naquela época, ninguém ficava perguntando qual era o laboratório, quem fez, de onde veio. Hoje em dia, as pessoas estão mais bem-informadas e elas acabam tendo mais curiosidade para tirar todas essas dúvidas, seja para o bem ou para o mal, como é o caso das fake news, que colocam a saúde de outros em risco”, compara.
Segundo Tereza, o movimento de vacinação contra a covid-19 teve muito mais impacto no início e, aos poucos, a adesão foi sendo enfraquecida pela população. “No início, as pessoas estavam com aquela percepção de risco, que era praticamente uma sentença de morte quem pegasse o vírus. Enquanto havia esse sentimento, a adesão era alta. Tanto é que a cobertura da primeira e segunda dose foi boa. Quando fomos adquirindo novas doses e a doença foi sendo controlada, justamente por causa da vacina, as pessoas perderam essa percepção de risco e a vacinação com as outras doses caiu bastante.”
Baixa cobertura
Em um cenário que repete a realidade nacional, na capital federal, com exceção da BCG (contra a tuberculose), todas as vacinas do calendário infantil estão abaixo da meta de 95% de cobertura para crianças de até um ano. Estima-se que a população do DF tenha, atualmente, 38 mil crianças de zero a 12 meses de idade, segundo projeção da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
*Com informações da Agência Brasília