Alimento vivo: políticas públicas protegem mães e bebês de interferências na prática da amamentação
Alimento vivo: políticas públicas protegem mães e bebês de interferências na prática da amamentação
Distrito Federal é referência mundial no tema
Gabriel Silveira, da Agência Saúde DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan
Já percebeu que não existem propagandas em nenhum meio de comunicação de produtos destinados a recém-nascidos? Isso, claro, não é por acaso. Há várias normas, mundialmente, que buscam proteger mães e bebês de interferências na prática de aleitamento materno. A rede pública de saúde do Distrito Federal, enquanto referência mundial no que se refere à eficácia das políticas públicas de apoio à amamentação, integra-se a esses esforços.

O uso inapropriado de fórmulas infantis, assim como quaisquer bicos artificiais, mamadeiras e chupetas, provocam interferência na amamentação. A política distrital estabelece que orientações sobre os efeitos negativos do uso de mamadeiras para a continuidade do aleitamento materno são parte de suas ações programáticas.
Além disso, é categórica ao proibir o uso de qualquer utensílio para administração de alimentação a lactentes que induza à perda do reflexo de sucção nos hospitais do DF, bem como a divulgação, a propaganda e o comércio desses produtos nas unidades de saúde da rede pública. A justificativa para a restrição é bastante simples, como explica a coordenadora de Políticas de Aleitamento Materno do DF, Mariane Curado: o uso de bicos artificiais suscita uma série de prejuízos ao crescimento e desenvolvimento infantil.
"Quando o bebê utiliza bicos artificiais, ele pode fazer 'confusão de bicos' e isso pode levar ao desmame precoce", explica. “Sugar o seio requer mais força da musculatura da face da criança. O uso de chupetas compromete o desenvolvimento muscular e, futuramente, irá causar prejuízos à introdução da alimentação complementar, à fala, à arcada dentária, entre outros", detalha.
Nos casos de bebês internados em unidades neonatais que não podem ser amamentados diretamente ao seio, o leite humano - preferencialmente o da própria mãe ou, quando necessário, o proveniente de Bancos de Leite Humano (BLH) - é oferecido por vias seguras e adequadas.

As formas mais comuns de administração são por sonda, com o auxílio de bomba de infusão ou, quando possível, por meio de copinho, estimulando o desenvolvimento da sucção e facilitando a futura transição para a amamentação. Ainda assim, quando há necessidade de uso de outros artifícios para a alimentação, essas condutas são discutidas e definidas por uma equipe interdisciplinar, visando sempre a segurança e bem-estar do bebê.
Alimento vivo
A Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) descreve o leite materno como um "alimento vivo". Sua composição é dinâmica, rica em compostos nutricionais que se adaptam às necessidades do bebê, além de conter anticorpos transmitidos pela mãe, que não podem ser reproduzidos industrialmente.

Além disso, trata-se de uma prática natural, renovável e ambientalmente segura; afinal, não gera resíduos e contribui para mitigar o impacto climático causado pela produção de fórmulas infantis.
O leite materno é o melhor alimento que um bebê pode ter, conforme define o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), organização dedicada a defender e proteger os direitos de crianças e adolescentes. O Ministério da Saúde estima que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes infantis - nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças menores de 5 anos.
Em aleitamento materno exclusivo não é preciso oferecer água, suco ou chá. O leite materno já contém toda a água e nutrientes que o bebê necessita até os seis meses de vida. Bebês que são amamentados ficam menos doentes e são mais bem nutridos do que aqueles que ingerem qualquer outro tipo de alimento.
Por isso, políticas públicas que promovam, protegem e incentivam o aleitamento materno são fundamentais. "Se a gente tem crianças, mulheres e famílias mais saudáveis, isso gera um impacto muito grande em toda a sociedade, além de trazer também mais economia aos serviços de saúde", explica Mariane Curado.

Apoio ao aleitamento
Toda mãe têm o direito de amamentar seu filho. No trabalho, em casa e até quando estão privadas de liberdade, elas têm direito a alimentar o bebê no peito. O aleitamento materno é também um direito da criança.
Ao todo, o DF conta com 21 unidades entre Bancos de Leite Humano e Postos de Coleta de Leite Humano. Além de coletar, processar e distribuir leite materno, o serviço também oferece suporte e orientação para mães e bebês. Caso necessite de orientações sobre amamentação ou esteja com problemas no período do aleitamento, a mulher deve entrar em contato com a unidade mais próxima de casa.
