03/08/2021 às 16h03

DF realiza mais transplantes de córnea após retomada de procedimentos eletivos

Número de transplantes de córnea no DF entre janeiro e julho aumenta 61% em relação ao mesmo período de 2020

Pacientes contam com atendimento de oftalmologia na rede pública de saúde - Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

 

JURANA LOPES, DA AGÊNCIA SAÚDE-DF

 

O Distrito Federal bateu a marca de 200 transplantes de córnea realizados. Somente neste ano, de 1º de janeiro a 28 de julho, foram realizados 200 transplantes e hoje, a lista de espera está em 398 pessoas aguardando pelo procedimento. O número é 61% maior que o mesmo período do ano passado, quando foram realizados 124 transplantes de córnea. Em 2020 foram feitos 222 transplantes de córnea ao longo do ano em todo o DF.

   

“Os transplantes de córnea eletivos ficaram suspensos entre abril e setembro por conta da pandemia. Então, somente casos de urgência eram realizados. Tudo isso por conta da adoção de protocolos de segurança adotados bem no início da pandemia. Com o decorrer do tempo, alguns critérios foram revisados e foi verificado que era possível manter os transplantes de córnea eletivos”, explica a diretora da Central Estadual de Transplantes, Camila Vieira Hirata.

 

A retomada dos transplantes de córnea eletivos explica o aumento no número de procedimentos realizados somente neste ano. Segundo Camila, no ano passado, o transplante de córnea foi o que sofreu maior impacto da pandemia.

 

“Houve uma queda de 46% na comparação com 2019 e, consequentemente, aumento da lista de espera. Então, ver que os pacientes que precisam do transplante de córnea estão sendo atendidos é muito gratificante”, afirma.

 

No DF hoje, são realizados transplantes de córnea pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital de Base (HBDF), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Instituto de Cardiologia (ICDF).

 

De acordo com a diretora da Central Estadual de Transplantes, os cadastros de potenciais receptores são realizados pelas próprias equipes habilitadas a realizar os transplantes nos estabelecimentos públicos ou privados de saúde do Distrito Federal. Após avaliação com consulta e exames especializados, o profissional médico comprova a necessidade de transplante e o paciente é inserido na lista única.

 

“Atualmente, o tempo médio de espera para realização do transplante de córnea no DF é de um ano. Em caso de urgência, como por exemplo, uma perfuração do globo ocular, o paciente é priorizado na lista e o transplante é realizado em poucos dias”, informa. Todos esses critérios são definidos em um Regulamento Técnico do Ministério da Saúde.

 

A servidora pública Ana Silvia Pires realizou o transplante de córnea em 2012. Ela tinha ceratocone e aguardou na fila pelo transplante por cinco meses. Acredita que se não fosse alguns feriados talvez tivesse feito o transplante em menos tempo.

 

“Fiz o transplante no Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), é um ótimo hospital. Tive um bom atendimento. As córneas são coletadas pela Secretaria de Saúde e distribuídas para as equipes transplantadoras, sejam elas públicas ou particulares. A minha cirurgia foi no hospital particular”, afirma.

 

Até entrar para a Secretaria de Saúde, em dezembro de 2011 e depois de trabalhar na Central de Captação de Órgãos e Tecidos, ao lado do Banco de Olhos, ela não fazia ideia como era trabalhoso conseguir uma doação, até mesmo de uma córnea.

 

“Consegui ver o quanto é difícil fazer a abordagem de uma família que acabou de perder um ente querido e pedir para que ela pense em outra pessoa que ela nem conhece, e nunca vai conhecer, e doe para ela voltar a ver”, destaca.

 

De acordo com ela, A equipe se desloca para onde a doação será feita, faz a enucleação e depois a córnea é preservada no Banco de Olhos até ser distribuída para alguém, como ela, que estava na fila de transplante.

 

“Tudo feito com dedicação e total altruísmo desse equipe maravilhosa. Eu tive a oportunidade de agradecer o técnico de enfermagem que fez a enucleação e a enfermeira que "cuidou" dela até ela chegar ao meu médico transplantador”, relembra.

 

Doação

 

A doação de córnea somente é possível após o falecimento, ou seja, não pode ser doada em vida, e deve ser captada em até 6 a 12 horas após a parada cardíaca. O transplante só acontece se houver doação da córnea, e alguns esclarecimentos são fundamentais. Por esse motivo, a conversa sobre doação acontece em um momento delicado, logo após o falecimento de um ente querido, mas é o único momento em que é possível viabilizar a captação da córnea para o transplante.