29/01/2022 às 07h00

Dia da Visibilidade Trans é celebrado neste sábado (29)

Data traz à tona desafios enfrentados pela população trans

LÍVIA DAVANZO, DA AGÊNCIA SAÚDE-DF | EDIÇÃO: MARGARETH LOURENÇO | REVISÃO: JULIANA SAMPAIO

 

 

Neste 29 de janeiro, é celebrado o Dia da Visibilidade Trans, que engloba pessoas as quais se identificam como travestis, mulheres transgênero, homens transgênero, pessoas transmasculinas, pessoas não binárias e gênero dissidentes.

 

A psicóloga da Gerência de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais (Gaspvp), Christiane Silva, diz que a data traz à tona debates importantes sobre os desafios que pessoas trans e travestis vivem cotidianamente, e o impacto que isso gera sobre a sua vida e a sua saúde.

 

Para acolher as especificidades da população trans, a rede pública de saúde do Distrito Federal conta com serviços especializados. “Há dois locais voltados ao atendimento dessa população. O Adolescentro atende jovens de 12 a 18 anos incompletos. Para pessoas maiores de 18 anos, o atendimento é realizado pelo Ambulatório de Diversidade de Gênero (Ambulatório Trans)”, destaca a psicóloga Tatiana Nardoni, que atua no Ambulatório Trans.

 

Localizado no Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin), antigo Hospital Dia, na 508/509 Sul, o Ambulatório é um serviço da Atenção Secundária, que oferta cuidado multiprofissional à saúde dessa população. “Disponibilizamos de equipe especializada para atenção integral em saúde, com foco no processo de transição de gênero e suas particularidades. São profissionais da área de psicologia, serviço social, enfermagem, fonoaudiologia, farmácia clínica (voluntariado) e diversas especialidades médicas (endocrinologia, psiquiatria, ginecologia, urologia, família e comunidade)”, explica Tatiana.

     

Desde 2017, ano de início do funcionamento do serviço, 545 pessoas deram entrada no local. Uma delas é Lucci Laporta, 29 anos, que frequenta o ambulatório desde sua inauguração. “Aqui já passei pela psicologia, psiquiatria, endocrinologia e acho que uma das oportunidades mais bonitas que tive foi a terapia em grupo que me possibilitou conviver mais com pessoas trans”, expõe.

 

Ela conta que começou seu processo de transição de gênero em 2016 e até encontrar o grupo terapêutico oferecido no local se “sentia muito sozinha nesse lugar de pessoa trans”. A troca com outras pessoas permitiu a criação de uma rede de apoio. “Acho que o ambulatório foi fundamental para eu ter uma transição saudável não só no sentido fisiológico, mas principalmente no quesito saúde mental, pois o começo da transição é uma fase muito difícil”, desabafa.

   

Para Cássio Rivan Santos da Silva, 25 anos, o apoio encontrado no grupo permitiu uma identificação e um reconhecimento de si mesmo. “Foi a porta de entrada para eu poder me compreender e me entender melhor”, constata. Ele chegou ao ambulatório por indicação de um amigo e logo iniciou acompanhamento psicológico que o encorajou no processo de transição.

 

“A partir disso tive coragem para contar para a minha família. O trabalho feito pelos profissionais do ambulatório foi parte importante para esse meu processo”, reconhece. Atualmente, ele participa semanalmente do grupo terapêutico e diz se sentir realizado. “Eu falo que transição é para o resto da vida e todo mundo está em transição o tempo todo”, acredita.

     

Rubi Martins dos Santos Correia, 34 anos, está há 1 ano e 2 meses no ambulatório. Ela ressalta que o olhar integral é de suma importância na vida das pessoas trans. “O tratamento é humanizado, tratam a gente pelo gênero de referência, a equipe é maravilhosa”, avalia.

 

Ela conta sempre ter se identificado com o feminino e aos 21 anos começou sua transição. Para ela, o Dia da Visibilidade Trans é um símbolo de luta. “Eu acho que a data é uma forma de homenagear todas as pessoas trans que lutaram para que a minha geração tivesse as políticas públicas que temos hoje”, analisa. E completa: “Ainda falta muito para avançar. Se temos agora um pouco de dignidade, de respeito e de acesso a serviços, é graças a elas”, frisa.

 

Como acessar o ambulatório?

Existem duas formas de acesso. Uma é por demanda espontânea, em que as pessoas interessadas devem encaminhar e-mail com os dados pessoais (nome, nome social, endereço, telefone, data de nascimento e número SES) para o e-mail ambtrans.sesdf@gmail.com. Atualmente, há uma lista de espera para acesso ao serviço. A outra forma é por meio do encaminhamento de outros serviços da rede.