08/08/2024 às 18h47

Dia do Pedestre traz conscientização sobre segurança no trânsito

Número de óbitos por atropelamento no Distrito Federal preocupa especialistas

Yuri Freitas, da Agência Saúde-DF | Edição: Marcelo Santos

Numa manhã londrina de 8 de agosto de 1969, quatro garotos de Liverpool acordaram cedo e cruzaram a faixa de pedestres em frente aos estúdios da EMI, na Abbey Road, para tirar a foto que estamparia seu novo álbum. O resto é história. Passados 55 anos daquele  dia, a ação corriqueira da maior banda de rock de todos os tempos hoje tem significados bem diferentes do que o originalmente pretendido.

Por exemplo, seria essa a data escolhida para se comemorar anualmente o Dia do Pedestre aqui no DF, conforme a Lei distrital nº 7.542. A normativa recém-aprovada também inaugurou um estatuto que, dentre outras providências, confere direitos e deveres ao pedestre, estabelece penalidades a quem transgredir a lei e prevê instrumentos técnicos e gerenciais para desenvolver na capital uma cultura favorável à mobilidade a pé, evitando atropelamentos e mortes no trânsito.

“É fundamental sabermos que, no processo de mobilidade urbana, o pedestre é a parte mais frágil e, por isso, há um dia especial para promovermos a conscientização da sua própria segurança”, disse Adriano de Oliveira, à frente da Gerência de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção à Saúde (Gvdantps). “Brasília tem uma longa tradição neste tema, pois foi uma das primeiras cidades e uma das que melhor implementou práticas relacionadas à proteção dos pedestres, principalmente relacionadas ao uso da faixa”, destacou Oliveira.

A Gvdantps, junto com o Detran-DF e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), coordena desde 2015 o Programa Vida no Trânsito do Distrito Federal (PVT-DF). A comissão de dados do PVT-DF é responsável por analisar o número de óbitos por acidentes viários no DF, e seus relatórios geraram uma conclusão preocupante: quase um terço das mortes no trânsito da capital federal é de pedestres. Em 2023, das 259 vítimas fatais em acidentes automotores, 87 estavam a pé; em 2022, esse número chegou a 93, de um total de 291 mortos.

Os dados do PVT-DF ainda indicam que Ceilândia, Taguatinga e Plano Piloto são as regiões administrativas com o maior número de atropelamentos. Para o coordenador da organização não governamental (ONG) “Andar a Pé – o movimento da gente”, Wilde Cardoso, os dados refletem uma situação de altíssima vulnerabilidade de quem precisa caminhar pelas ruas ou estradas do DF.

“Esses dados não são compatíveis com uma cidade que tem o orgulho de respeitar a faixa de pedestre. A gente observa, de 2015 para cá, que o número total de mortos no trânsito está estabilizado, mas que o percentual de atropelamentos fatais ainda gira em torno de 35%, isto é, a cada três pessoas mortas em acidentes veiculares, uma não está dentro de um carro – está provavelmente numa calçada, ou atravessando a pista. É preciso mudar essa situação”, defende Cardoso.

O gerente da Gvdantps concorda. Segundo Oliveira, a solução do problema deve passar por mudanças de atitude de todos os envolvidos no processo de mobilidade urbana. “A responsabilidade é de todos, desde o próprio pedestre – que precisa adotar uma conduta prudente e atenta, respeitando os locais priorizados para a sua travessia –, os condutores de veículos, que devem dirigir uma atenção especial não só aos demais automóveis, mas, principalmente, aos pedestres e, ainda, os gestores, promovendo políticas públicas e estruturando a mobilidade urbana de maneira que seja mais segura para todos”, destaca o gerente.