Dia Mundial da Saúde: Hortos unem saúde e meio ambiente em prol da população
Dia Mundial da Saúde: Hortos unem saúde e meio ambiente em prol da população
Modelo implementado em quatro regiões administrativas do DF está de acordo com campanha da OMS deste ano “Nosso Planeta, Nossa Saúde”
JADE ABREU, DA AGÊNCIA SAÚDE-DF | EDIÇÃO: MARGARETH LOURENÇO | REVISÃO: JULIANA SAMPAIO
Lavanda, sálvia, alecrim e eucalipto são algumas das 100 espécies de plantas medicinais cultivadas de forma ecológica no quintal da Unidade Básica de Saúde 1 do Lago Norte. O horto teve início em 2018 e segue um modelo de agrofloresta para a plantação e o manejo.
O espaço verde de antes, sem uso e com o acúmulo de entulho, foi substituído por ervas e culturas para produção de fitoterápicos, em uma área atual de 500 metros quadrados. A transformação está em acordo com a campanha “Nosso Planeta, Nossa Saúde”, da Organização Mundial da Saúde e promovida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OMS/Opas). A campanha deste ano chama a atenção para o bem-estar da população e do meio ambiente ao adotar ações sustentáveis.
O gerente de Práticas Integrativas em Saúde da secretaria, Cristian Silva, ressaltou a contribuição para um ecossistema mais salubre quando se incentiva esse tipo de técnica. “A área da saúde produz muito lixo, são seringas, máscaras, luvas. E mais: um lixo contaminado. Então, quando se faz um espaço como um horto voltado para fitoterápicos, inverte-se essa lógica”, explica.
“Esse projeto faz com que a nossa unidade promova saúde em um outro âmbito. É um produtor que cuida do solo, do ar e do meio ambiente”, reforça o criador do projeto de agrofloresta medicinal e Referência Técnico Distrital de Fitoterapia, o médico de família e comunidade, Marcos Trajano.
Ele informa que é feita uma agricultura sem adubos sintéticos, sem agrotóxicos. “Até porque essas plantas vão ser utilizadas para a produção de medicamentos e precisam estar isentas de qualquer tipo de contaminante”. O médico acrescenta que o trabalho envolve setores em prol de uma comunidade saudável. “A agrofloresta por si só não dialoga em nada com o SUS, mas quando se coloca no contexto das práticas integrativas e da vigilância em saúde e da promoção da saúde, estamos fazendo um link com as políticas públicas do campo.”
Parceria da comunidade
Para que seja desenvolvido o horto, a comunidade é convidada a participar em mutirões. A ideia, destaca Trajano, é também atuar em prol da saúde mental, ao desenvolver relações de parceria com os moradores por uma ação em comum. “Chamamos a comunidade para cooperar em torno da criação de vínculos, de transformar lugares inóspitos em aprazíveis, para a gente criar espaços seguros e que contribuam para a manutenção de relações mais saudáveis”, afirma.
Moradora do Lago Norte, a aposentada Maria Aparecida de Araújo Guerra, 73 anos, é voluntária desde o começo e conta que se incomodava com o ambiente antes da intervenção agroecológica. “As pessoas passavam e, ali parecia um terreno baldio”. Ela participa dos mutirões e dos encontros promovidos no horto do Lago Norte. A aposentada diz que se diverte também com essas ações. “É uma alegria ver concretizada uma iniciativa cidadã, que pega um espaço e o transforma.”
Outro voluntário é o advogado e morador local Mário Luiz Machado, 67 anos. Desde 2019, ele participa das ações de cuidado e manejo do horto. Machado relata que é adepto da fitoterapia e que também colabora com o viveiro do Lago Norte. “É gratificante trabalhar pela comunidade. O trabalho em grupo é muito bom e saudável, além do ambiente bem próximo da natureza.”
Fitoterápicos
Além do Lago Norte, outras três regiões administrativas desenvolvem hortos com o objetivo fitoterápico. São elas: Planaltina, com o Centro de Referência em Práticas Integrativas em Saúde (Cerpis) de Planaltina; Riacho Fundo I, com o Núcleo de Farmácia Viva; e São Sebastião, com a Casa de Parto de São Sebastião. A intenção ainda é construir 12 novas unidades neste ano, contemplando grande parte do Distrito Federal.
A produção dos fitoterápicos consta em extrair os princípios ativos de raízes, sementes e folhas das plantas. As plantas são enviadas a duas farmácias vivas para em laboratório serem produzidos xaropes, pomadas, géis, chás, compressas e tinturas. Os medicamentos precisam ser receitados por um médico da família. Os farmacêuticos das unidades liberam a dispensação para as pessoas. Arquivo em Anexo 1
Fundamentos do projeto
O horto é desenvolvido com base na agroecologia, agricultura biodinâmica e agrofloresta sintrópica sucessional. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a agricultura biodinâmica é um sistema de produção de base ecológica. Entre os elementos de destaque para a esse tipo de cultivo está o uso de preparados biodinâmicos, com os princípios da homeopatia no cultivo.
O estudo da agrofloresta sintrópica sucessional, ainda segundo informações da Embrapa, forma o sistema produtivo voltado para a recuperação ambiental. As árvores nativas podem ser plantadas juntas – consorciadas – com culturas agrícolas, o que aumenta a diversidade de espécies e interações entre elas.