É preciso falar sobre HIV com os jovens
É preciso falar sobre HIV com os jovens
Doença aumenta no público de 15 a 24 anos. Governo quer mudar estratégia de comunicação sobre prevenção
BRASÍLIA (28/11/17) – "É necessário somente um descuido, uma única vez para que tudo aconteça!". Assim pensa o estudante George Luiz*, alguns meses depois de ter recebido o diagnóstico de Aids. Aos 27 anos, ele faz parte do universo cada vez mais crescente de jovens que contraem o vírus HIV e, por falta de diagnóstico precoce, acaba sofrendo com os efeitos da doença.
Dados do Ministério da Saúde apontam que entre 2006 e 2015 triplicou a quantidade de casos de Aids entre pessoas de 15 a 19 anos (de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes) e entre o público de 20 a 24 anos, dobrou, passando de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes. O Distrito Federal segue a tendência de crescimento: de 2011 para 2016, os casos na faixa de 15 a 24 anos passaram de 10,8% para 16,9% do total de notificações da doença.
Para o estudante George, a principal causa desse aumento entre os jovens está no fato de que a evolução no tratamento, apontando a possibilidade de uma vida normal, de certa forma tranquiliza e tira o medo de contrair a doença. "Mas o HIV não tem cura e pode levar a um estágio avançado, que é a Aids", lembra ele, que passou por vários problemas de saúde, inclusive uma tuberculose, até descobrir que estava com HIV e assim poder iniciar o tratamento.
Há um consenso de que o fato de a luta contra a doença nos anos 1980 não ter sido vivenciada pela geração que hoje tem até 30 anos provoca uma sensação de "normalidade".
COMO FALAR - Para o gerente de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde, Sérgio d'Àvila, é preciso melhorar as estratégias de comunicação voltadas para jovens, criando ações preventivas e de mobilização onde esse público se concentra.
"Um dos grandes problemas para a prevenção é o preconceito. Como trabalhar a prevenção da Aids nas escolas, se não pudermos falar de sexualidade? Pois se o sexo é o principal meio de transmissão do vírus HIV", frisa d'Ávila.
Ele adianta que para 2018 o Governo de Brasília deverá falar mais sobre o assunto nas escolas públicas do DF. "Brasília aderiu ao projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, do Ministério da Saúde, e pouco mais de 180 escolas devem ser contempladas. Um dos eixos do projeto é a prevenção de DSTs", conta o gerente.
MAIORES DE 50 – O crescimento nos casos de Aids também é visível em pessoas com mais de 50 anos de idade. Em 2001 eles representavam 12,66% no total de notificações da doença. Já no ano passado, esse percentual era de 14,10%.
Para Sérgio d'Ávila, há pelo menos duas explicações para isso: "uma é que as pessoas dessa idade que se descobrem com Aids contraíram o vírus na época da juventude. A outra é que o padrão de sexo mudou e as pessoas permanecem em atividade sexual atualmente por muito mais tempo."
Ele diz, ainda, que o preconceito e a associação da Aids com a morte rápida também atrapalha o diagnóstico precoce nessa faixa etária. "Ainda há muita associação também a valores morais. Acredita-se que só quem pega a doença é homossexual, profissionais do sexo, pessoas solteiras. Mas não é bem assim", destaca d'Ávila.
DADOS – Em 2016, o DF teve 936 diagnósticos de HIV/Aids. Desse total, a maioria foi em pessoas do sexo masculino: 791. Destes, 46,5%, ou seja, a maior fatia, são de homens que fazem sexo com outros homens. Sobre o local de moradia com maior incidência da doença, estão no topo da lista Cruzeiro, Taguatinga, Riacho Fundo e Águas Claras.
Até outubro deste ano, já foram notificados 269 casos de Aids e 567 de HIV. Atualmente, 13,6 mil pessoas estão em tratamento de HIV/Aids na rede pública do DF.
O número de óbitos vem diminuindo desde 2013, quando 126 pessoas morreram em razão da doença. No ano passado, foram 112 mortes.
GESTANTES – Conforme os dados informados no Sistema de Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal, de 2011 a 2016 foram notificados 291 casos de gestantes com HIV. No último ano, foram 39 casos e as Regiões Administrativas com os maiores coeficientes de incidência foram Riacho Fundo II, Lago Norte, Paranoá, Sobradinho I.
No período de 2011 a 2016, a faixa etária de gestantes mais acometida foi entre 20 a 29 anos (51,2%) e de 30 a 39 anos (35,4%). No entanto, no último ano, observa-se um crescimento percentual entre as gestantes de 15 a 19 anos (25,6%) e de 30 a 39 anos (43,6%), indicando aumento de exposição ao HIV nestas duas faixas.
VOCÊ SABIA? - HIV e AIDS não são a mesma coisa: HIV é uma sigla para vírus da imunodeficiência humana. É o vírus que pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Veja as dicas de como se prevenir.
*Nome fictício para preservar a identidade do paciente