Equipe da UBS 6 do Paranoá recebe capacitação focada em população indígena
Equipe da UBS 6 do Paranoá recebe capacitação focada em população indígena
Treinamento busca mitigar barreiras culturais por meio da informação e do acolhimento qualificado
Ingrid Soares, da Agência Saúde-DF | Edição: Natália Moura
Esta semana começou com palestras e debates para a equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) 6 do Paranoá - Cariru. Com foco na população indígena, o curso capacitou, na terça-feira (27), os profissionais que atuam na zona rural e lidam mais diretamente com as comunidades.
No evento, a convite da Organização Internacional para as Migrações (OIM) no Distrito Federal, a indígena da etnia Warao Leany Torres Moraleda, assistente de projeto da entidade, informou sobre a cultura, o histórico de mobilidade, a forma de reorganização e a temática sobre saúde e medicina nesses grupos. “Como indígenas, o primeiro tratamento é sempre a nossa medicina. A não indígena é a segunda opção. Reconhecendo isso, as equipes de saúde pública entendem as especificidades antes da abordagem. Elas passam a servir de ponte entre o atendimento médico convencional e o nosso”, apontou.
Para ela, outro desafio recorrente em todo o Brasil é a importância de ter tradutores, intérpretes e mediadores culturais no momento da assistência. É essencial ter essa comunicação intercultural, além de reconhecer o papel das lideranças indígenas nesse contexto”, complementou..

Gerente da UBS 6 Cariru, Lucas de Queiroz Valença conta que a equipe recebeu a comunidade indígena há cerca de dois anos e teve percebeu obstáculos na interação por questões linguísticas e culturais. “Esse conflito dificultava a oferta dos serviços de saúde em sua plenitude.” Desde então, os cursos e treinamentos tem conseguido aproximar a UBS dos indígenas, possibilitando um melhor atendimento.
“É fundamental que os profissionais da UBS entendam a cultura e criem mecanismos e estratégias mais eficazes para conseguir interagir melhor com esses grupos”, complementa o gerente. Ele exemplifica: “A nossa médica é cubana e fala espanhol. Muitos Warao também reconhecem esse idioma. Não todo mundo. Então, quando o paciente não fala espanhol, existe um tradutor da própria comunidade, uma pessoa que fala e que faz a tradução. Alguns indígenas estão aprendendo português também.”
Público-alvo
O curso é voltado às equipes de Saúde da Família, pois são elas a referência no atendimento de populações indígenas que residem no Distrito Federal. Os profissionais recebem treinamento continuado para que sejam capazes de prestar uma assistência que atinja a competência cultural dessas comunidades, dirimindo os problemas de saúde do grupo.
“Quando ficamos doentes, buscamos atendimento na nossa medicina. Outras populações, no entanto, como os Warao, possuem um jeito próprio de entender o tratamento. Como profissionais de saúde, devemos buscar compreender como funciona esse sistema e, assim, ajudar a minimizar os riscos de doenças. Essa é a importância do curso”, explicou o gerente de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais (GASPVP), Fernando Natal, durante a capacitação.

Atenta ao curso, a Agente Comunitária de Saúde (ACS) Alessandra Pereira dos Santos disse que toda informação já auxilia no manejo com o paciente. “Tudo que pudermos aprender sobre esses grupos auxilia em um atendimento mais completo.”
A organização global Aldeias Infantis SOS, que atua no acolhimento e na assistência a crianças, adolescentes, jovens e suas famílias venezuelanas em situação de refúgio no Brasil, também esteve presente na capacitação. Assistente social da entidade, Iuri de Lima contou que a instituição realiza um projeto com os Warao desde setembro de 2023, visando o desenvolvimento da comunidade. “Fazemos um papel de mediação entre a comunidade e os órgãos públicos. O treinamento na UBS 6, que atende aos Warao, é algo que abre os olhos, disseminando informação. Todos os que atendem a essa comunidade precisam ter uma visão completa e vemos o interesse dos profissionais de saúde nisso.”
Tratamento indígena
Na medicina Warao, segundo Moraleda, há três níveis de atendimento de saúde. A primeira é sobre doenças comuns, tratadas com plantas medicinais preparadas por mulheres da comunidade (hierbateras). Há ainda doenças causadas por espíritos - para isso, a etnia conta com os Wisidatu, Jobarutu e Bajanarotu (médicos indígenas conhecedores do mundo espiritual). Já enfermidades transmitidas por terceiros como sarampo, febre amarela, vírus da imunodeficiência humana (HIV), tuberculose etc. são tratadas em hospitais e outras unidades de saúde.