18/08/2021 às 11h10

Famílias de doadores de órgãos contam com atendimento pós-luto

Equipe de psicologia auxilia no processo de aceitação do luto por meio de contato telefônicoFollow-upFollow-upWhatsapp,follow-upfollow-up

ADRIANA SILVA I EDIÇÃO: JOHNNY BRAGA I AGÊNCIA SAÚDE-DF

Alexandra Gurgel da Costa Freitas autorizou a doação dos órgãos da mãe - Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

 

 

A Central Estadual de Transplantes do Distrito Federal (CET-DF) iniciou o projeto , que tem por objetivo prestar apoio e acompanhamento psicológico às famílias que autorizaram a doação de órgãos de um familiar falecido. Por meio desse atendimento, as equipes da Secretaria de Saúde ajudam os familiares a lidar com o processo do luto pelo qual passam.

   

O existe desde abril e já foi ofertado a 26 familiares que autorizaram a doação de órgãos e tecidos de seus entes. De acordo com a legislação de transplantes, a doação de órgãos somente é realizada com o consentimento livre e esclarecido da família que, após a morte do doador, autoriza a retirada dos seus órgãos. Considera-se familiar autorizador o cônjuge, o companheiro ou o parente consanguíneo de maior idade e juridicamente capaz, na linha reta ou colateral até o segundo grau, a exemplo do pai, da mãe, dos irmãos e dos avós maternos ou paternos. O familiar autoriza a doação por escrito e o documento também é assinado por duas testemunhas. No caso de doadores pediátricos, a legislação exige a autorização expressa de ambos os genitores, conforme prevê a Lei n°10.211 e o Decreto 9175.

 

Acesso ao atendimento

 

Por ligação ou mensagem de texto, a CET procura pelo familiar que autorizou a doação de órgãos. Nesses contatos, a equipe informa que entrou em contato para verificar como essa pessoa está passando pelo processo do luto e sinaliza a existência do suporte psicológico convidando-o a participar de três atendimentos telefônicos.

 

O trabalho busca prevenir ou minimizar os agravos psíquicos relacionados à perda do doador que, na maioria dos casos, decorre de eventos inesperados, súbitos e estressantes aos familiares, a exemplos de acidentes diversos (traumatismos cranioencefálicos ou afogamentos), violência urbana e doenças cerebrovasculares (AVCs). A equipe de follow-up é composta por psicóloga e residentes de psicologia, que observam se há fatores de risco e de proteção ao luto complicado orientando o familiar sobre quais estratégias de enfrentamento podem ser empregadas para lidar com esse processo.

 

A psicóloga da Central Estadual de Transplantes do DF, Esther Almeida, explica como os familiares são abordados. “Inicialmente, ligamos para os familiares autorizadores explicando o trabalho e convidando-os para o atendimento. Quando não conseguimos contato por telefone, enviamos uma mensagem por apresentando a proposta de trabalho. Em caso de interesse pelo atendimento, solicitamos que sinalize o melhor dia e turno para contato”, informa.

 

A psicóloga conta, ainda, que alguns pacientes não aceitam a ajuda no primeiro momento. “Há familiares que dispensam o atendimento, mas posteriormente nos contatam solicitando o suporte. Já outros dispensam para si, mas solicitam o suporte a algum outro membro da família que possa estar apresentando mais dificuldades em lidar com o luto”, observa.

 

Agradecimento

 

A empresária Alexandra Gurgel da Costa Freitas, de 33 anos, foi contatada pela equipe da CET e aceitou receber ajuda psicológica do follow-up. “Entraram em contato comigo um mês após o falecimento da minha mãe. As conversas com a psicóloga me ajudaram muito no processo do luto, a enfrentar o vazio que eu estava sentindo naquele momento. Sem dúvida, é de um valor imensurável o apoio psicológico que eu recebi”, lembra.

 

Esther Almeida esclarece que a assistência prestada por meio do follow-up é de caráter breve e focal e que o serviço busca acolher a família do doador para que o processo de luto seja enfrentado de uma maneira menos angustiante. Quando se observa que o familiar necessita de um atendimento mais aprofundado, a psicóloga orienta que ele prossiga com os atendimentos em serviços que realizem acompanhamentos de médio a longo prazo. Há familiares que desconhecem ou apresentam dúvidas quanto aos locais e aos serviços em que podem dar continuidade aos atendimentos. Assim sendo, o ajuda com orientações de encaminhamento.

 

“Quando o familiar apresenta histórico de adoecimento psíquico prévio agravado pelo luto, orientamos a busca de atendimento na Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde. No caso dos familiares que dispõem de rede de saúde suplementar (convênios de saúde ou serviços particulares), a recomendação é de que busquem esses serviços para continuidade dos atendimentos”, orienta.

 

A profissional também ressalta a importância do e o empenho da CET em cuidar das famílias doadoras que se preocupam com a saúde e o bem-estar de desconhecidos, ainda que em um momento de sofrimento. Segundo ela, uma das missões da Central Estadual de Transplantes é zelar pela vida. “O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida”, finaliza a profissional destacando uma frase de Cicely Saunders, precursora dos Cuidados Paliativos.