16/11/2020 às 10h28

Hmib faz cirurgia rara em bebê de seis semanas de vida

Trata-se da retirada de um feto que estava no organismo da criançafetus in fetufetus in fetu*Mesentério é um órgão que consiste em uma folha de tecido que envolve outros órgãos da cavidade abdominal e dobra-se sobre si mesmo.

Parte da equipe que participou da cirurgia. O cirurgião Acimar Cunha Júnior está à esquerda - Foto: Johnny Braga/Agência Saúde DF

 

JOHNNY BRAGA

   

Um fenômeno embrionário extremamente raro levou uma menina de seis semanas de idade, na última quinta-feira (12), ao Centro Cirúrgico do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Chamado cientificamente de (FIF), a condição pode ocorrer em um a cada 500 mil nascimentos. É como se um feto em desenvolvimento englobasse o outro que se mantém vivo no organismo do irmão, tornando-se um parasita.

  A condição pode ocorrer nas três primeiras semanas de vida intrauterina. O feto englobado, porém, não consegue desenvolver-se normalmente, nem sobreviver fora do organismo do hospedeiro. Ele não possui os órgãos essenciais desenvolvidos e nutre-se do sangue e da energia do irmão. A retirada da massa embrionária ocorreu com sucesso e a bebê já recebeu alta hospitalar.  

De acordo com o médico cirurgião pediátrico do Hospital Materno Infantil de Brasília e Referência Técnica Assistencial da Unidade de Clínicas Cirúrgicas Pediátricas do Hmib, Acimar Cunha Júnior, em casos assim, o gêmeo parasita não tem um corpo humano definido. No caso da bebê operada no Hmib, o feto estava próximo ao intestino delgado e foi retirado e analisado pela área de patologia da unidade que identificou o baço bem definido, fígado e articulações.

 

“É um caso raro. Tivemos apenas três casos assim no Distrito Federal”, relata Acimar Cunha Júnior. O médico explica que, no mundo, há conhecimento de cerca de cem casos. Os dois outros casos relatados no DF foram diagnosticados no próprio Hmib e no HUB.

 

Os primeiros casos descritos de , no mundo, ocorreram em adolescentes.

 

A descoberta

 

Na última quinta-feira (12), Micaela Alves da Silva, de 25 anos, percebeu que a filha Evelyn chorava bastante, vomitava um líquido verde e estava com semiobstrução intestinal. Ela levou a bebê para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) onde fez uma radiografia e uma tomografia de abdômen. Ao receber o diagnóstico veio o susto. “Foi um choque, nunca tinha visto isso na minha vida”, relata a mãe.

    Os sintomas nesses casos são principalmente inchaço e dor no local. Inicialmente, os exames demonstraram a possibilidade de um tumor, mas com as características de ossificação dentro da massa, levantou-se a possibilidade diagnóstica de FIF. Por tratar-se de um caso complexo, a equipe do HRSM encaminhou à criança para o Hmib que é o hospital referência em cirurgia pediátrica. Chegando lá, a sala de cirurgia foi preparada e a bebê operada.  

Uma equipe formada por quatro cirurgiões, um anestesista, enfermeiros e técnicos de enfermagem fizeram a retirada do feto parasita. O procedimento durou cerca de duas horas e transcorreu com tranquilidade.

 

“A massa embrionária estava envolvida no mesentério* do intestino delgado. Existia um risco de lesão com comprometimento do intestino da paciente”, lembra Acimar Cunha Júnior. O médico conta que a não retirada dessa massa faz com que exista o risco de ela continuar crescendo e causar sintomas de obstrução intestinal devido a localização.

 

Conforto após a operação

 

Micaela conta que “quase desmaiou” quando recebeu a notícia. Ela esteve o tempo todo ao lado da filha e, aliviada, agradeceu os cuidados que recebeu da equipe do Hospital Materno Infantil de Brasília. “Graças a Deus, aqui no Hmib, fomos bem atendidas e ela está bem. O pior já passou”, comemora.

 

Mãe e bebê já estão em casa, em Santo Antônio do Descoberto (GO), e a pequena Evelyn poderá levar uma vida normal.