Inclusão de autistas no mercado de trabalho abre espaço para novos talentos
Inclusão de autistas no mercado de trabalho abre espaço para novos talentos
Especialistas apontam benefícios da inclusão e como preconceito e falta de assistência adequada contribuem para a baixa empregabilidade de pessoas com o transtorno
Michele Horovitz, da Agência Saúde-DF | Edição: Cris De Lamônica
Com uma população de 13 mil pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) no DF, segundo a Associação Brasileira de Autismo, a Secretaria de Saúde (SES-DF) conta com uma rede de unidades focadas no atendimento, diagnóstico e tratamento. O serviço também apoia os pacientes a conseguirem o primeiro emprego, um processo facilitado neste ano com a Lei 14.992/2024, que define regras para estimular a contratação, como empregado, aprendiz ou estagiário, de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com especialistas da SES-DF, a promoção da inclusão de autistas no mercado de trabalho não apenas combate preconceitos, mas também abre espaço para que mostrem suas habilidades. A assistente social Ana Miriam afirma que, para que sejam reconhecidas e tenham a oportunidade de uma vida mais autônoma e realizada, a sociedade precisa entender que cada pessoa no espectro autista é única, com suas próprias capacidades e desafios. “O espectro autista é vasto e muitos desses jovens têm necessidades leves e são extremamente competentes em suas funções. A diversidade no ambiente de trabalho só tem a enriquecer a todos”, destaca.
Alguns exemplos de aptidões comuns entre indivíduos com TEA são:
-Habilidades relacionadas a questões lógicas e matemáticas
-Disposição para atividades repetitivas e metódicas, que consistem na manutenção de uma rotina
-Atividades com regras e padrões bem definidos
-Ótima memória visual e de longo prazo
A professora de geografia Wanessa Tirelli, diagnosticada aos 31 anos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), destaca que recebeu apoio no seu ambiente de trabalho, com acolhimento da chefia, mas que essa não é a realidade de muitas pessoas com autismo. “O diagnóstico me trouxe mais organização e consciência sobre minha condição, ajudando-me a lidar melhor com o dia a dia profissional. Sou uma profissional tão capaz quanto qualquer outra”, afirma.

Desafios e apoio da família
Segundo a assistente social Ana Miriam há um estereótipo social de que as pessoas com autismo possuem dificuldades severas em suas interações sociais ou apresentam comportamentos como a autoagressão. “Essa visão limitada impede que muitos autistas, que são altamente capazes e produtivos, tenham a chance de mostrar seu potencial”, afirma.
A especialista explica que o preconceito enraizado afeta a autoestima dos adolescentes autistas, que crescem acreditando que não são capazes de se inserir no mercado de trabalho. “Muitas famílias acreditam que seus filhos não são capazes de desempenhar qualquer outra atividade, o que reforça a exclusão. Precisamos estimular programas de estágio e jovem aprendiz. Essa inclusão é fundamental para desmistificar o diagnóstico e revelar todo o potencial produtivo desses jovens”, ressalta.
Centros especializados
Para obter o diagnóstico do transtorno, o primeiro passo é ir à unidade básica de saúde (UBS) de referência. Após isso, há o encaminhamento a um dos quatro centros especializados em reabilitação (CERs) da SES-DF, conforme o perfil do paciente.

Foto: Agência Brasília
Os pacientes adultos que precisem de reabilitação podem ser atendidos no CER II, localizado em Taguatinga.