Programa contra tabagismo da Secretaria de Saúde tem índice de 54% de sucesso
Programa contra tabagismo da Secretaria de Saúde tem índice de 54% de sucesso

Em 2016, 3,6 mil pessoas participaram. Metade conseguiu parar de fumar
BRASÍLIA (31/5/17) – O tabaco mata quase seis milhões de pessoas por ano, sendo mais de 600 mil não fumantes, vítimas do fumo passivo. Se nada mudar, a previsão é de que a partir de 2030, mais de 8 milhões de pessoas venham a morrer em razão disso. No Distrito Federal, pelo menos 11% da população tem o hábito de consumir derivados do tabaco.
Para tentar reverter esse cenário, a Secretaria de Saúde conta com 42 unidades de saúde com programa contra tabagismo ativo, onde atuam cerca de 350 profissionais capacitados para este tipo de asistência. O atendimento é feito individualmente e também em grupos de 15 até 25 pessoas cada.
Somente em 2016, 3.604 fumantes foram atendidos. Desse total, pouco mais da metade (54%) conseguiu parar de fumar. A quantidade é acima da média identificada em estudos, os quais apontam índice de sucesso de 30% de quem participa do programa de tratamento. A informação é da assistente social Maria Suélita de Lima, da Gerência de Ciclos de Vida da Secretaria de Saúde.
TAGUATINGA - Entre os centros de referência em tratamento contra o tabagismo, o que funciona na Policlínica de Taguatinga é um dos mais atuantes. Já obteve reconhecimento do Ministério da Educação, da Organização Mundial da Saúde, da Câmara Legislativa do Distrito Federal e também da Comissão de Tabagismo da Secretaria de Saúde.
No local, são atendidas, anualmente, cerca de 400 pessoas em grupos de até 25 pessoas, com quatro encontros semanais. Ao fim dessas etapas, 80% dos participantes conseguem parar de fumar e assim permanecer por até um ano.
"Os encontros seguem um roteiro preconizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) e pela Coordenação de Tabagismo da Secretaria de Saúde. Abordamos os malefícios do cigarro; síndrome da abstinência; armadilhas que podem fazer a pessoa querer voltar a fumar e como fazer para evitá-las; e os benefícios em parar de fumar", explica o médico da equipe da Policlínica, Francisco Leal.
Para ser atendido na unidade, há dois caminhos: por demanda espontânea ou por encaminhamento de outro serviço da rede. "Usamos três datas para trabalhar o tema, o que acaba atraindo fumantes que desejam largar o vício: no dia 31 de maio, que é o Dia Mundial sem Tabaco; o dia 29 de agosto, quando se celebra o Dia de Combate ao Fumo; e em 27 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer", diz o médico.
Participante de um dos grupos do programa, Dalvelinda de Magalhães, 57 anos, está há dois deles sem fumar. "Já consigo até correr", conta ela. "Quando era fumante, me cansava por qualquer esforço físico", completa.
"Comecei a fumar aos 16 anos de idade. Mas chegou um dia que tossia muito e percebia que as pessoas não queriam muito ficar perto de mim. Acho que por causa do cheiro ruim. Então, decidi procurar ajuda para largar o vício", diz. Quando vem a vontade de fumar, o que ela faz? "Danço, faço caminhada, ralo uma cenourinha e como misturado com mel. Todas essas dicas repassadas no grupo, que também tem sempre uma palavra amiga, de apoio, que nos ajuda bastante também", diz.
Nesta semana, houve o encerramento de mais uma turma do programa. Entre os participantes, uma grávida de 8 meses. "Desde antes de engravidar, minha mãe pedia para eu parar, mas nunca dei ouvidos. Engravidei e continuei com o vício, mas depois dava uma certa depressão por que pensava que estava prejudicando meu filho. Foi aí que resolvi procurar ajuda", conta Samara de Souza, 31 anos, há dois meses sem encostar no fumo. "Assim pretendo continuar. Não me imagino amamentando meu filho e fedendo a cigarro ou jogando fumaça nele", diz.
Mas não é somente o cigarro que representa um mal. A aposentada Ana Fernanda de Jesus, 78 anos, nunca colocou um na boca. O hábito era fumar cachimbo e mastigar fumo. "Lembro que eu era pequenininha quando acendi meu primeiro cachimbo, acho que tinha uns 6 anos. Desde então, só me recordo de ter parado de fumar uma vez, por cinco meses, e agora, com o tratamento. Estou desde fevereiro sem usar tabaco", conta.
ABORDAGEM – O primeiro contato do fumante que deseja parar com o vício é com a assistente social que, por meio de perguntas, tentar resgatar no paciente o que o leva a fumar e quanto ele gasta com cigarros por ano. Há fumantes que chegam a gastar R$ 300 por mês somente com cigarros. "Trabalhamos com ele a perspectiva de que é possível parar de fumar, substituindo o prazer do cigarro por outros prazeres mais saudáveis", observa a assistente social Francimery Bastos.
Para ela, um dos grandes motivos de sucesso do programa contra tabagismo de Taguatinga é a integração paciente e equipe multidisciplinar. "Fazemos ele se sentir parte do processo de mudança. Quando ele consegue largar o vício, aumenta a autoestima e ele passa a ser exemplo nos locais onde convive. Por aqui, entregamos um certificado para quem fica um ano sem fumar e ainda usamos o paciente como modelo para outros que estão na tentativa", destaca a assistente social.
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