08/05/2022 às 12h00

Mães, gestoras, mulheres: conheça as mães líderes da Saúde no DF

Atuar na saúde pública exige dedicação, empatia, diálogo, resiliência; ser mãe também e Pasta destaca quem lidera as famílias e grandes equipes

Camila Holanda, da Agência Saúde-DF | Edição: Margareth Lourenço

Christiane Braga perdeu a mãe aos 5 anos e manteve a ideia de preencher esse vazio na vida de alguém até adotar em 2008 a filha Maria Clara. Foto: Arquivo Pessoal

“Sou mãe pelo desejo de ser mãe”, começa a contar Christiane Braga, enfermeira à frente da Subsecretaria de Planejamento em Saúde (Suplans). A relação de Christiane com a maternidade tem origem na ausência. A mãe morreu quando a gestora tinha 5 anos e ela foi criada pelo pai. “Ele nunca me deixou sentir falta de nada, foi um verdadeiro ‘pãe’, um pai que é mãe também, mas a lacuna dela existe”, afirma.

Daí surgiu a vontade de preencher esse espaço na vida de outro alguém. Essa outra pessoa surgiu em 2008, do ventre de uma jovem de 24 anos que já estava em sua sexta gestação e entregaria o bebê para adoção, assim como fez com os anteriores, por não ter condições de criar. A neném, que ficava quieta na maior parte do tempo, só começava a chutar a barriga da grávida quando encontrava Christiane. “Foi ela que me escolheu, antes mesmo de nascer”.

Maria Clara está com 14 anos e uma das preocupações de Christiane é garantir que a adolescente tenha certeza de que mulheres tem espaço na gestão pública. “A mulher pode, sim, ser gestora. Pode, sim, desempenhar papel significativo nas tomadas de decisão. É importante que a nossa relação seja traduzida no empoderamento da mulher dentro da família e da sociedade. Não é um poder autoritário, é um poder de decisão, de opinião, de fala”, declara.

Servidora da Secretaria de Saúde há 25 anos, Chris, como chamam os colegas de trabalho, considera que conciliar todas as facetas de ser mulher, como trabalhadora, mãe, esposa e ainda ter tempo para cuidar de si, pode ser difícil. “É um esforço, uma dedicação, são muitas horas de trabalho. Mas, ao mesmo tempo, eu considero ser mãe e estar nesse desafio de gestora satisfatório e gratificante, porque acabo sendo uma referência para minha filha”, ressalta.


Mesmo sendo subsecretária de Administração Geral, Gláucia Silveira faz questão de levar o filho à escola para fortalecer o vínculo entre eles. Foto: Arquivo Pessoal 

Ser referência profissional para os filhos é o grande trunfo das subsecretárias e superintendentes da saúde. “Apesar de só ter 9 anos, ele sabe que eu tenho um cargo, que tenho muita responsabilidade. Compartilho isso com ele para que entenda a importância do trabalho”, diz Gláucia Silveira, subsecretária de Administração Geral. Quando engravidou de Samuel, ela era diretora administrativa do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). O menino só conhece a mãe como gestora.

Gláucia faz questão de levar o filho à escola, um momento rotineiro para fortalecer o vínculo entre eles. “É importante que os momentos que tenho com ele sejam bem aproveitados e valorizados”, ressalta. Apesar disso, sempre há cobrança de Samuel por mais tempo e atenção. Às vezes, o garoto espera Gláucia chegar do trabalho para fazer a tarefa com a mãe. “Como mulher, não podemos perder nossas outras motivações. Queremos ser mãe, mas também queremos crescimento profissional. É importante fazer o que nos faz feliz e hoje me sinto realizada em desempenhar esses dois papéis”, declara.

Superintendente Sabrina Gadelha conta que filho de 5 anos fica bravo por dividir a mãe com as atribuições do trabalho. Foto: Arquivo Pessoal 

Luiz Fernando, 5 anos, também cobra atenção. O pequeno reclama quando a brincadeira com a mãe é interrompida por ligações de trabalho. Sabrina Gadelha, a mãe de Luiz Fernando, é a superintendente da Região de Saúde Norte, que compreende Sobradinho e Planaltina. “Ele fica bravo, mas eu explico que estou trabalhando e que todo trabalho é digno, necessário e que precisamos ter responsabilidade com o que nos propormos a fazer”, explica a gestora.

Como mora longe de onde trabalha, a rotina de Sabrina começa bem cedo para dar conta de tudo. Sempre que pode, se esforça para estar com o filho. “Começo o dia tomando café da manhã com ele e saio para trabalhar. No final do dia, priorizo buscá-lo na escola, fazer as tarefas da escola, jantar e termos nossos momentos de brincadeira antes de dormir”, relata a médica. Mesmo com o esforço, Sabrina confessa que a posição de gestora impõe alguns sacrifícios. “Sem dúvida, minha prioridade é meu filho. O restante, se organizarmos bem o tempo, conseguimos fazer tudo”, conclui.

Superintendente Flávia Costa tem um 'sobrilho', um sobrinho que é como filho de 21 anos e que mora com a médica. Foto: Arquivo Pessoal 

E, quando o amor é tão grande que extrapola os vínculos familiares tradicionais? Flávia Costa, superintendente da Região de Saúde Centro-Sul, tem um “sobrilho”, um sobrinho que é como filho. Eduardo tem 21 anos e, há três, mora com a médica. “Nós somos muito próximos, desde quando ele era criança”, comenta. Além disso, Flávia se considera mãe pet. Ela tem quatro cachorros: Filó, Bob, Bilu e Simba.

“É uma tripla jornada, como acho que toda mulher tem. Além do trabalho, tem que gerenciar a casa, deixar comida pronta, arrumar as coisas. Tudo isso toma tempo”, explica a médica. Eduardo costuma ajudar nessas atividades. “É um menino muito bom”, elogia Flávia.


Lucilene Queiroz se dedica a formar o filho, residente em ortopedia, também em um bom médico, repassando seus conhecimentos e experiência na assistência. Foto: Arquivo Pessoal 

No caso da superintendente da Região de Saúde Oeste, Lucilene Queiroz, o exemplo de trabalho foi tão forte que influenciou na escolha de Felipe pela profissão. O jovem de 28 anos é médico, residente de ortopedia. Lucilene destaca a importância do esporte na vida do filho, que também foi fundamental para a escolha da especialização. “Nos momentos em que estive ausente, ele se dedicou a muitas atividades esportivas. O esporte foi meu grande aliado para criar alguém com senso de coletividade, respeito ao próximo e espírito de liderança”, destaca.

O futuro ortopedista já jogou críquete, futebol, futsal, handbol e basquete, por exemplo. E a escolha pela ortopedia foi justamente para aliar as duas paixões: a saúde e o esporte. Porém, quando mais novo, também teve seus momentos de chamar a atenção da mãe. Lucilene conta que, por um tempo, Felipe perdia o transporte escolar de propósito, para que ela fosse buscá-lo. “É desafiador alcançar níveis de gestão em que estive e formar um ser humano”, opina a médica.

Porém, nunca faltou amor e dedicação ao garoto. “Quando ele entrou no ensino médio, eu comecei a estudar as matérias dele nos meus plantões, para poder ajudar nos estudos dele”, conta. Agora, Lucilene se dedica a formar, também, um bom médico, repassando seus conhecimentos e experiência na assistência. “Hoje, a minha missão é ensinar a ter todo esse amor no exercício da profissão. Que ele seja um médico que se interessa pelo próximo, que se incomoda com a dor, que quer ajudar, que se importe com a vida do paciente”, ressalta. “Filho é uma obra de arte e sempre inacabada”, completa a médica.