Samu-DF completa 20 anos como referência para população
Samu-DF completa 20 anos como referência para população
Com atendimento rápido e capacitação, servidores salvam vidas
Humberto Leite, da Agência Saúde DF | Edição: Natália Moura
Salvar vidas. Há 20 anos, completados hoje (24), essa é a principal meta dos 513 servidores da Secretaria de Saúde (SES-DF) lotados no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal (Samu-DF). O grupo de profissionais atua 24 horas, com mais de 180 acionamentos por dia, cerca de 7,5 por hora e quase 69 mil em um ano. E essa é só uma parte do serviço.

O telefone 192 não para. Dez atendentes, chamados pela sigla Tarm, de Técnico Auxiliar de Regulação Médica, estão na linha de frente do atendimento. Em um tempo médio de 97 segundos, eles identificam paciente, solicitante, endereço e característica principal da ocorrência.
Em seguida, a chamada vai para um dos seis médicos reguladores que, em uma média de 127 segundos, decidem se será enviada uma das 38 ambulâncias, das 11 duplas de motolâncias espalhadas por 22 bases descentralizadas no DF ou mesmo da equipe do suporte aeromédico, que voa em helicópteros do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
Todo esse trabalho de comando e controle é realizado em uma sala da Central de Regulação Médica de Urgências, a sede do Samu-DF localizada no SIA. O espaço reúne servidores que têm experiência no atendimento e agora conduzem os colegas.

"O Samu hoje é visto como recurso essencial para a população e o profissional aqui veste a camisa. Ele tem uma missão, tem um grupo de valores", afirma o diretor do Samu-DF, Victor Arimatea. O sentimento de dever a ser cumprido se espalha na equipe. "É difícil não vestir esse macacão com muito orgulho", afirma a médica Larissa Michetti, que já ocupou funções tanto a bordo de helicópteros e ambulâncias quanto na regulação dos casos.
Gestante, a servidora da SES-DF está afastada das ruas, mas mantém o mesmo espírito de dedicação ao receber as ligações telefônicas. Às vezes, a assistência se prolonga. "Há casos de parada cardiorrespiratória em que você fica no telefone até a equipe chegar", conta. Em outras situações, ciente de onde está cada ambulância, Larissa permanece na linha enquanto levam a pessoa até um hospital mais próximo. "Orientar a colocar um paciente em um carro e passar a informação para onde ele deve ser levado é uma conduta médica", explica.
Apesar de nenhum dia ser igual ao outro, a experiência ajuda a criar alguns padrões de atendimento. "O perfil da noite de Natal, por exemplo, é mais para pacientes cardiopatas, antes e durante a ceia, às vezes por conta de brigas de família. Já a noite do Ano-Novo é muito agitada, sobretudo depois da meia-noite", conta Larissa. Na rotina diária, perguntas específicas ajudam a traçar o perfil da assistência.
Uma das opções à disposição dos médicos da regulação é o atendimento na área de saúde mental. "Fazemos a escuta e ajudamos na solução do caso", conta a psicóloga do Samu-DF Marina Dias. A profissional conversa com pacientes ao telefone ou orienta terceiros. "Certa vez fui fazer uma palestra e, ao final, fui abordada por uma professora que eu havia orientado a como ajudar um estudante", lembra.

Desafios e trotes
Nem sempre, porém, as ligações trazem histórias positivas. Somente em 2024, o Samu-DF recebeu 9,4 mil chamadas classificadas como engano; quase 28 mil de simples pedidos de informações; e 7,3 mil da situação menos desejada: os trotes. "Ficamos bem bravos, especialmente quando é trote, no qual a pessoa fala uma besteira ou só fica calada. Inclusive, tem um indivíduo que apelidamos de 'sussurro'. Ele ligava e ficava sussurrando. No passado, porque o número já foi bloqueado", revela o supervisor dos Tarm, Diego Sampaio.
O próprio sistema eletrônico já começou a barrar trotes automaticamente - com base em alguns perfis de ligação. No ano passado, foram quase 5,4 mil chamadas do tipo bloqueadas. Isso ajudou a reduzir o problema: em 2021, foram 68 mil ligações falsas, tratadas como verdadeiras ameaças ao serviço, pois, mais que atrapalhar os operadores, podem congestionar a linha telefônica e impedir algum acionamento real.
Em casos mais extremos, ambulâncias chegaram a ser enviadas para ocorrências inexistentes. "Temos observado uma redução do trote, mas o nosso objetivo não é ficar satisfeito com a alta diminuição; a meta é zerar esse tipo de ligação", afirma Victor.

Velocidade de atendimento
Depois do sinal verde do médico regulador, as equipes correm contra o tempo. Apesar de vinculados a bases específicas, os veículos se deslocam por todo o DF conforme as demandas. O médico Luiz Henrique Costa, por exemplo, conta que, em um só dia, podem ser acionados para múltiplas ocorrências. "Somos da base do Riacho Fundo. Mas, hoje, deixamos um paciente na Asa Sul e depois atendemos outra situação de capotamento no Taquari."
O trabalho dos condutores também é marcante. Com cursos específicos para direção de veículos de emergência, são profissionais com técnicas únicas para reduzir o tempo de deslocamento, incluindo ultrapassar o semáforo vermelho, utilizar a contramão ou até passar sobre obstáculos. Quando necessário, também participam dos atendimentos, sendo capacitados, entre outras funções, para realizarem a reanimação cardiopulmonar.

Ampliação
A importância do Samu-DF tem resultado em projetos de expansão. "Precisamos acompanhar o desenvolvimento das Regiões Administrativas e ter bases posicionadas no território de forma a reduzir o tempo de resposta", explica Victor. Nos últimos cinco anos, foram criadas novas bases, no Plano Piloto (Asa Norte), em Taguatinga (QNJ), Águas Claras e Samambaia. Já há projeto para construção de outras cinco em Sobradinho, Ceilândia, Guará, Riacho Fundo II e mais uma para o Plano Piloto.
Paralelo a isso, investimentos permitem a manutenção do número de ambulâncias equipadas para o serviço. As 30 de suporte básico - que em geral vão para a rua com pelo menos um condutor e dois técnicos de enfermagem - têm medicamentos e insumos para atendimentos iniciais.

Já as sete avançadas (incluindo o serviço aeromédico), que incorporam um médico na equipe, contam com equipamentos para intubação, ventilação, infusão e outros procedimentos. Há ainda uma ambulância específica para situações de saúde mental.
As motolâncias, por sua vez, tiveram a frota 100% renovada em 2023 e são pilotadas por técnicos em enfermagem ou enfermeiros, levando na garupa medicamentos básicos. Neste ano, também houve o investimento na troca de computadores do Samu-DF, utilizados tanto na central quanto nas bases.

Treinamento
As competências de atendimento in loco e a coordenação dos recursos são temas de capacitações no Centro de Treinamento do Núcleo de Educação em Urgências do Samu-DF. Os cursos buscam replicar cenários realísticos e levam para novos servidores situações vivenciadas pelos colegas com mais experiência.
Essa troca será intensificada entre 17 e 19 de setembro, quando ocorre o 1º Congresso Internacional do Samu-DF. Criado para comemorar os 20 anos do serviço, o evento vai ocorrer no Museu da República e tem na programação desde a troca de vivências entre profissionais até a apresentação de trabalhos científicos. Outro destaque é o projeto Samuzinho, que leva capacitação em primeiros socorros em escolas públicas e privadas do DF.
Depoimentos de quem faz o Samu

Luiz Henrique Costa, médico. Foto: Matheus Oliveira | Agência Saúde DF
Quando chamar o Samu?
O serviço funciona 24h e realiza o atendimento de urgência e emergência em qualquer lugar, como residências, locais de trabalho e vias públicas. O acionamento é feito pelo telefone 192, no qual uma equipe recebe as chamadas e as classifica de acordo com a urgência.
É indicado chamar o Samu-DF para situações como: problemas cardiorrespiratórios, intoxicações ou queimaduras graves, maus-tratos, trabalhos de parto que apresente risco de morte da mãe ou do bebê, tentativas de suicídio, crises hipertensivas, acidentes/traumas com vítimas, afogamentos, choque elétrico e acidentes com produtos perigosos. Em casos de transferências entre unidades hospitalares de pacientes com risco de morte, o Samu-DF também pode ser acionado.

Larissa Michetti, médica. Foto: Matheus Oliveira | Agência Saúde DF