25/02/2013 às 19h37

Saúde Pública do Distrito Federal: Caos ou Revolução

Artigo: Rafael de Aguiar Barbosa, secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal

Cento e oitenta dias. Esse é o tempo em que a rede pública de saúde do DF respira aliviada no que diz respeito a leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e compra de medicamentos. Realidade bem diferente do passado, quando esses eram alguns dos gargalos enfrentados pelos gestores. Nos últimos dois anos, dezenas de ações foram implementadaspara oferecer saúde de qualidade a população do Distrito Federal. Não foi fácil reerguer o que há muito não recebia a mínima atenção. Mas os resultados são visíveis. A começar pelo principal e cruel equivoco gerado pelos governos anteriores: concentrar o acesso da população aos serviços de saúde nas superlotadas emergências dos hospitais.

Construímos as portas de entradas recomendadas por todos os organismos ligados a saúde pública. Saímos de uma cobertura do Programa Saúde da Família de 12% para 30%. Abrimos cinco Clínicas de Família. Colocamos as primeiras quatro UPAs para funcionar, corrigindo o terrível vazio assistencial entre os centros de saúde e os hospitais,retirando dos prontos-socorros cerca de dois mil pacientes por dia.

Muitas vezes a diferença entre a vida e a morte pode ser o acesso do paciente a leitos de terapia intensiva. Disponibilizamos 231 novos leitos públicos de UTI– o dobro do que foi criado em 50 anos.

As filas de espera por procedimentos eletivos, como cirurgias de catarata, laqueadura, vias biliares, varizes e outras chegavam a mais de cinco anos. Por meio de mutirões, realizamos em quatro meses cerca de cinco mil cirurgias, zerando a fila para cirurgia de catarata, algo impensável a bem pouco tempo.

O acesso aos serviços públicos de saúde mental era o pior do país. O flagelo da dependência química ao crack e outras drogas era ignorado. Abrimos leitos hospitalares para os pacientes na fase aguda e estamos colocando em funcionamento mais cinco Centros de Atenção Psicossocial.

A dificuldade de acesso ao tratamento oncológico é, especialmente dramática entre as crianças. Inaugurado em 2011, funciona a pleno vapor o Hospital da Criança José de Alencar, considerado de altíssimo padrão.

Retomamos o programa de transplantes do DF, interrompido desde 2010. Hoje realizamos procedimentos de alta complexidade, como fígado e pulmão, e não há fila no DF para transplantes de coração. É o melhor programa de transplante do Brasil.

A qualificação da assistência nos hospitais é visível após a implantação do atendimento por gravidade e não por ordem de chegada. Reduzimos as macas nos corredores das emergências em 39% e otempo de permanência dos pacientes nos hospitais também diminuiu.

Reduzimos em quase 55% o número de casos de dengue. Também somos pioneiros no Brasil ao implantar a vacina contra o HPV e na Carreta da Mulher, realizamos mais de 30 mil exames preventivos em dez meses.  

Todas asações de melhoria do acesso aos serviços de saúde pública do DF  só foram possíveis graças a investimentos pesados na reestruturação do sistema. Em dois anos, foram contratados mais de nove mil profissionais, entre médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, motoristas, administradores e técnicos de várias especialidades. Isso é mais do que foi realizado em 10 anos nos governos anteriores.

Em praticamente todas as unidades de saúde houve reformas e aquisição deequipamentos. O desabastecimento de insumos de saúde, uma chaga propositadamente criada para encobrir todo tipo de “mal feito” está reduzida a níveis baixíssimos. A execução do orçamento da saúde, motivo de permanente crítica, é crescente e superior aos governos anteriores.

Aumentar a responsabilização dos profissionais de saúde e garantir que a hora contratada seja de fato trabalhada tem na implantação do Ponto Eletrônico o seu marco. O sistema já funciona na administração central de SES DF e no Hospital de Base.

Esses avanços foram alcançados sem quebrar a gestão pública do sistema de saúde. A administração do SUS-DF, a segunda maior capacidade instalada de serviços públicos de saúde do país, é feita de forma direta sem a transferência da responsabilidade da gestão para Organizações Sociais, como em outras unidades da federação.

Mas então, chegamos ao paraíso? Evidentemente que não! Há ainda muito por fazerl. Todavia, está claro que não estamos no caos! Insistir nessa tese pode acarretar efeitos colaterais graves. Possivelmente, o mais perverso e paradoxal seja incitar a população a danificar os próprios equipamentos de saúde e até a agredir os profissionais de saúde.

O governador Agnelo Queiroz afirma, com uma convicção inabalável, que está em curso uma revolução silenciosa na saúde pública do DF. Essa convicção também é crescente na população. De onde vem essa convicção? Não importa quem esteja à frente da Secretaria de Saúde hoje e se levarmos em conta os atores políticos que já tiveram a responsabilidade de gerir a saúde pública do DF não encontraremos alguém com maior capacidade e compromisso em resolver os problemas da saúde pública do que ele. Portanto, vamos para frente, como disse o poeta: “Se muito vale o já feito, mais vale o que será”.