14/08/2025 às 10h56

Economia solidária e saúde mental: SES-DF e Fiocruz capacitam profissionais

Público são servidores que atuam nos Centros de Atenção Psicossocial; próxima fase vai ofertar capacitação para usuários e familiares dos serviços

Ingrid Soares, da Agência Saúde DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan

Capacitar por meio do empreendedorismo, permitir o protagonismo e estimular a autoestima dos usuários assistidos pelo serviço especializado de saúde mental. Esse é objetivo do curso "Economia Solidária e Saúde Mental - fortalecimento das ações de geração de trabalho, renda e arte criativa no DF". A aula inaugural ocorreu na tarde desta terça-feira (12/8), no auditório da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB). 

A parceria é da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rio de Janeiro e capacitará em torno de 50 profissionais dos 18 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), somando 30 horas-aula na modalidade on-line. Numa segunda fase, serão qualificados também usuários e familiares dos serviços de saúde mental.

“A ideia é que com essas iniciativas possamos profissionalizar e instrumentalizar os usuários dos Caps para produzir peças e que possam permitir a geração de renda. Esse curso aborda temas como o associativismo, o cooperativismo e buscará instrumentalizar para que a produção possa virar uma fonte de renda, o que é excelente porque ajuda na autonomia e na reabilitação psicossocial”, aponta a subsecretária de Saúde Mental (Susam), Fernanda Falcomer.
 

"Esse curso aborda temas como o associativismo, o cooperativismo e buscará instrumentalizar para que a produção possa virar uma fonte de renda o que é excelente porque ajuda na autonomia e na reabilitação psicossocial”, apontou a subsecretária de Saúde Mental do DF. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde DF


O curso demonstra meios de formalização dos empreendimentos de economia solidária no âmbito da saúde mental, enfatizando os princípios dessa forma de produção, que valoriza a cooperação, autogestão, sustentabilidade, solidariedade, o comércio justo e o consumo solidário, oferecendo uma possibilidade de vinculação das pessoas com transtorno mental à geração de trabalho e renda.

“As pessoas que utilizam o serviço têm problemas sociais graves, muitas vezes em situações de vulnerabilidade, não têm formação. Então além de uma nova forma de cuidado em saúde e liberdade é também constituir outras possibilidades de organização da vida. Essa pessoa precisa ter uma geração de renda e não só no sentido de dar um emprego, é uma questão de sociabilidade”, ressaltou o pesquisador sênior da Fiocruz e presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Paulo Amarante.
 

"As pessoas que utilizam o serviço têm problemas sociais graves, muitas vezes em situações de vulnerabilidade. Essa pessoa precisa ter uma geração de renda e não só no sentido de dar um emprego, é uma questão de sociabilidade”, ressaltou o pesquisador sênior da Fiocruz, Paulo Amarante. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde DF


Experiência

Uma das participantes, a gerente do Caps AD de Santa Maria, Adriana Câmara, destacou que a medida possibilita ainda a troca de experiências exitosas entre os serviços. “Nas outras regiões, às vezes tem algum serviço que já está dando certo e podemos implementar ou a gente tem dicas de como fazer e repassamos. Isso é essencial para oferecermos um atendimento com cada vez mais qualidade”, afirma.

Já a supervisora do Caps III Samambaia, Juliana Neves Batista, reforçou que a inclusão dos pacientes nessas atividades promove a emancipação e a cidadania.  “Tem muitos usuários que possuem renda, têm dificuldade de se reinserir. Tendo um curso que viabilize isso é muito bom porque eles conseguem ter essa desenvoltura”, ressalta.

Reintegração social

A gerente de Desinstitucionalização da Susam/SES-DF, Jamila Zgiet, explica que a reabilitação psicossocial tem como foco promover a reintegração social e a qualidade de vida de pessoas com sofrimento psíquico, buscando a superação da vulnerabilidade e a participação ativa na sociedade.

"Além dos atendimentos clínicos, estamos investindo também na parte mais prática para que os serviços consigam ajudar os usuários e familiares a desenvolver empreendimentos de economia solidária, com atividades como artesanato, pintura, horta, iniciativas já realizadas nos Caps", explica.

A ação contou ainda com a participação da Ana Paula Guljor, psiquiatra, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS) da Fiocruz e presidente da Abrasme, e da psicóloga Leandra Brasil, mestre em psicologia social e doutoranda na Universidade Lanús, na Argentina. Os professores são referências da luta antimanicomial no Brasil.

Projeto Libertarte

Há também outras iniciativas da SES-DF em conjunto com a Fiocruz, como o projeto Libertarte, com oficinas criativas aos pacientes dos Caps. A iniciativa conta com o trabalho de oficineiros dedicados a atividades artísticas e de produção. Esses profissionais serão responsáveis por colocar em prática as oficinas de arte, cultura e geração de renda, além de qualificar e ampliar o que já é realizado nos centros contemplando as áreas de artesanato, música, horta, crochê e pintura. 

Atualmente, a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do Distrito Federal conta com 18 Caps em funcionamento. Clique aqui e saiba mais.
 

A iniciativa capacitará em torno de 50 profissionais dos 18 Caps, somando 30 horas-aula na modalidade on-line. Na segunda fase, serão qualificados também usuários e familiares dos serviços de saúde mental. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde DF