Saúde implementa novo sistema para acompanhamento da Doença de Chagas
Saúde implementa novo sistema para acompanhamento da Doença de Chagas
Além dos casos agudos, fase crônica da doença também será registrada no Programa e-SUS Notifica
Érika Bragança Santos, da Agência Saúde-DF | Edição: Amanda Martimon
A população do Distrito Federal contará com um novo sistema de acompanhamento da Doença de Chagas pelo Programa E-SUS Notifica. A Secretaria de Saúde (SES-DF) – que já monitora os casos agudos na rede pública de saúde – passa a usar a ferramenta para registrar também a forma crônica da doença, que pode se desenvolver quando não ocorre a cura na fase aguda. O novo monitoramento vai aprimorar os processos de vigilância epidemiológica e garantir a qualidade dos dados registrados.
Gerente de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Kênia Oliveira explica que o monitoramento só ocorria para os casos agudos, mesmo sem notificações no DF. “A implementação do Sistema de Notificação da Doença de Chagas permitirá saber quem são e onde estão as pessoas afetadas e compreender a magnitude da doença na capital. Hoje, o nosso foco tem sido em gestantes e nos filhos de mães positivas [para Chagas].” Com a nova estratégia do Ministério da Saúde, os profissionais conseguirão dar uma devolutiva mais aprofundada sobre a enfermidade.
A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, hospedado pelo barbeiro, um tipo de percevejo. Apresenta uma fase aguda, que pode ser sintomática ou não, e uma fase crônica, a qual pode se manifestar nas formas indeterminada (assintomática), cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva.

É importante destacar que o DF não apresenta cenário de transmissão, ou seja, não há registro de infecções recentes de moradores. Por cuidado, no entanto, a enfermidade segue na atenção da área de Saúde, que acompanha pacientes infectados em outras regiões do Brasil e com sequelas da doença.
Vulnerabilidade
A vigilância é fundamental, pois, segundo o Boletim Epidemiológico: Territorialização e vulnerabilidade para Doença de Chagas Crônica do Ministério da Saúde, o DF tem o terceiro maior índice de vulnerabilidade para Chagas crônica do país, atrás de Goiás e Minas Gerais, respectivamente.
De acordo com a área técnica, o monitoramento da infecção por Trypanosoma cruzi na população vai proporcionar dados essenciais para o planejamento e a definição de estratégias de vigilância epidemiológica e de atenção à saúde. O objetivo é reduzir os impactos negativos que a doença provoca na vida das pessoas.

A SES-DF também acompanha e atua na prevenção de barbeiros por meio da Vigilância Ambiental. Atuante na área há mais de 40 anos, Vilma Feitosa, bióloga na Gerência de Vigilância Ambiental de Vetores e Animais Peçonhentos e Ações de Campo, ressalta que a circulação do inseto continua, principalmente, no período chuvoso, iniciado em outubro, sendo a presença no DF em mais de 90% na área rural.
“É muito mais difícil encontrar o animal na área urbana porque ele precisa das condições necessárias para viver. Hoje, as casas são rebocadas e o inseto tem mais dificuldade de se esconder. Ele gosta de lugares úmidos, escuros, sujos e com frestas, em locais muito próximos à fonte de alimento”, alerta a especialista. Por isso, era comum ser encontrado em casas de pau a pique. Na cidade, pode ser localizado em quintais junto a galinheiros e canis, por exemplo.
Controle no DF
Caso o cidadão suspeite ter visto um barbeiro, pode entregar o inseto em um dos 84 pontos disponibilizados pela SES-DF. Caso haja a confirmação de que o percevejo é mesmo o barbeiro, uma equipe retorna ao domicílio e realiza uma inspeção a procura de outros exemplares e, se necessário, intervém com a utilização de inseticida apropriado.
Nos últimos dois anos, foram visitados 100 domicílios com o inseto. Até maio de 2023, apenas sete. No acumulado dos anos, a pasta examinou 799 locais e encontrou 30 barbeiros infectados pelo Tripanosoma cruzi. A espécie predominante no DF é a Panstrongylus megistus.
Perfil de paciente de risco para a Doença de Chagas
- Ter morado ou morar em área com relato de presença do vetor transmissor (barbeiro) e/ou em habitação onde possa ter ocorrido o convívio com vetor transmissor;
- Residir ou ser procedente de área com registro de transmissão de Trypanosoma cruzi ou com histórico epidemiológico sugestivo da ocorrência da transmissão da doença;
- Ter feito transfusão de sangue ou hemocomponentes antes de 1992;
- Possuir familiares ou pessoas do convívio habitual que tenham diagnóstico da enfermidade, em especial mãe e/ou irmão(s) com infecção comprovada.