18/05/2024 às 09h00

Dia Mundial do Celíaco: cerca de 2 milhões de brasileiros sofrem com a doença

Autoimune, enfermidade é caracterizada pela intolerância ao glúten. Sintomas mais comuns incluem vômitos, diarreia crônica e desnutrição

Larissa Lustoza, da Agência Saúde-DF | Edição: Willian Cavalcanti

Comer um bolo no meio da tarde, tomar uma cerveja no final de semana ou jantar aquela pizza. Pequenos prazeres que agradam muitas pessoas, mas podem ser fatais para outras. Esta é a realidade de quem sofre com a doença celíaca, uma enfermidade marcada pela intolerância ao glúten – principal fração proteica presente no trigo, no centeio, na cevada e na aveia.

A doença celíaca é marcada pela intolerância ao glúten, fração proteica presente no trigo, centeio, cevada e aveia. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

De acordo com dados da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra), estima-se que, no Brasil, há aproximadamente 2 milhões de celíacos, sendo a maioria não diagnosticada. No mundo, a estimativa é que 1% da população seja celíaca. O Dia Mundial do Celíaco é lembrado em 16 de maio.

Na forma clássica da doença celíaca, o principal sintoma é a diarreia crônica, que pode ser acompanhada de distensão abdominal, perda de peso e outros sinais, como anemia recorrente, falta de apetite, alteração de humor e vômitos. Outras manifestações isoladas podem aparecer, como baixa estatura, anemia por deficiência de ferro, anemia por deficiência de folato e vitamina B12, enxaqueca, osteoporose, dentre outros.

Para o diagnóstico, diversos profissionais de saúde participam do cuidado, sendo essencial a análise por um gastroenterologista. “O diagnóstico da doença celíaca é geralmente realizado por médico gastroenterologista, mas recomenda-se a adoção de cuidado multidisciplinar e acompanhamento multiprofissional envolvendo nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais”, explica Carolina Cunha, gerente substituta da Gerência de Serviços de Nutrição da Secretaria de Saúde (SES-DF).

Paulo André Silveira, 49 anos, descobriu a doença após um check-up anual de saúde, com diagnóstico dado por médico gastroenterologista, que conhecia o histórico familiar do bancário. Uma das características fundamentais da doença é a predisposição genética do indivíduo e o tratamento é essencialmente baseado em dieta e nutrição, com a exclusão permanente de alimentos contendo glúten.

Paulo André Silveira descobriu a doença após um check-up anual de saúde feito pelo gastroenterologista. Foto: Arquivo Pessoal

Para Paulo André, a nova dieta acabou se tornando mais benéfica do que imaginava. “Por eliminar muitos alimentos ultraprocessados e por favorecer uma dieta mais natural, acabei tendo uma alimentação mais saudável. Além disso, eliminou e amenizou vários efeitos desagradáveis que o glúten trazia e eu achava que eram normais”, explicou.

Contaminação cruzada

No entanto, não basta só eliminar os alimentos com glúten. Os celíacos devem tomar cuidado com a contaminação cruzada. “A contaminação cruzada acontece quando partículas de glúten contaminam alimentos, utensílios ou superfícies e está relacionada a fatores como higiene local, assim como processos de armazenamento e manuseio”, explica a Referência Técnica Distrital em Gastroenterologia, Daniela Carvalho. Por exemplo, em locais que fabricam e preparam muitos alimentos com trigo, há grande possibilidade de ocorrer a contaminação.

Paulo André tem tomado este cuidado desde que recebeu o diagnóstico, o que se tornou seu maior desafio. Por isso, criou estratégias para evitar a contaminação cruzada. “Tento preparar minha alimentação mais em casa, pois só assim tenho certeza exatamente dos ingredientes que vão na comida. Levo marmitas para o trabalho e tento me alimentar antes de ir aos eventos sociais, pois é comum não haver nenhuma opção sem glúten”, relatou.

Além da restrição de alimentos com glúten, pacientes celíacos devem tomar cuidado com a contaminação cruzada, que pode ocorrer no preparo, transporte e armazenamento dos alimentos. Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília

Caso não tratada, a doença pode levar a uma série de complicações de saúde. “Há risco de desenvolvimento de linfomas e doenças autoimunes, osteoporose ou osteopenia, a perda óssea; doenças do fígado e do trato biliar. Pode ocorrer também depressão ou ansiedade; neuropatia periférica, como formigamento, dormência ou dor nas mãos e pés”, explica a gastroenterologista.

De acordo com Daniela Carvalho, há estudos em andamento sobre possíveis medicamentos para controle da doença, que podem atuar desde a modulação da resposta imunológica ao glúten até os que podem diminuir a ativação do glúten. No entanto, ainda não há previsão de comercialização desses medicamentos.

Tratamento
Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada do usuário no SUS. Nela, o usuário passará pelo acolhimento, atendimento e classificação de risco. Os pacientes diagnosticados na rede básica de saúde ou com sintomas crônicos do trato gastrointestinal são encaminhados às especialidades de gastroenterologia e gastropediatria.