Banco de Leite do Hospital Regional de Taguatinga comemora 45 anos
Banco de Leite do Hospital Regional de Taguatinga comemora 45 anos
Referência distrital, a unidade foi a primeira do Centro-Oeste e salvou milhares de crianças no Distrito Federal
Michelle Horovits, da Agência Saúde-DF | Edição: Natália Moura
Em 1978, quando o país ainda não possuía uma política de incentivo ao aleitamento materno, um grupo de médicos e associados do Rotary Clube de Taguatinga Norte fundava o primeiro banco de leite humano (BHL) na região Centro-Oeste. Nasceu, assim, em 19 de setembro daquele ano, o BLH do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), que, ao longo de 45 anos, tem contribuído para a saúde e a história de centenas de crianças. A unidade é referência e procurada por profissionais de outros estados e países para treinamentos, indicados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Em celebração à data especial, funcionários e beneficiados receberam homenagem da Secretaria de Saúde (SES-DF), que concedeu certificados de reconhecimento pelos serviços prestados à saúde e um café da manhã em comemoração. A coordenadora de Políticas de Aleitamento Materno da pasta, Miriam Santos, emocionou-se ao recordar do esforço dedicado por muitos profissionais para manter a unidade em funcionamento. Ela expressou seu agradecimento ao Rotary e destacou a importância do Corpo de Bombeiros (CMBDF) na coleta de leite doado, enfatizando que a unidade não poderia existir sem a colaboração deles.
“Estou nessa missão desde 1992. É um sonho realizado. A gente só existe por causa dos bebês receptores de leite humano e das mães nutrizes. Eu sou apenas uma maestra, somente conduzo uma grande banda. Sem cada um desses integrantes, que são os instrumentos disso tudo, não haveria como e nem porquê fazer este trabalho”, agradeceu Santos.
Rede que salva
O Governo do Distrito Federal (GDF) mantém bancos de leite em dez hospitais regionais, responsáveis por receber, pasteurizar e distribuir o leite materno a recém-nascidos internados em unidades neonatais. Além disso, esses bancos orientam mães sobre amamentação e técnicas de pega do bebê ao seio, uma vez que isso nem sempre é instintivo e pode causar desconforto e ferimentos, levando muitas mulheres a recorrerem à fórmula.
A coordenadora do BLH do HRT, Natália Conceição, acredita que os 45 anos de história da unidade foram muito marcantes. "Fazer parte dessa história e dar continuidade a essa ideia inovadora é algo transformador. Nossa equipe sabe que impacta a vida da população. O aleitamento materno é fundamental e é algo gratificante saber como contribuímos.”
É o caso do pequeno Henry de Moura, que nasceu de 36 semanas, mas com peso de 33, e, há seis dias, recebe o leite do banco. A mãe Andressa Venâncio de Moura, 34 anos, se emociona ao saber que o filho recebe ajuda. "Meu leite começou a descer apenas nesta semana e nos próximos dias vamos pegar um complemento para que ele continue a ganhar peso", detalha a jovem que ainda recebeu ajuda para amamentar. "A gente olha e vê que não está saindo leite e começa a se desesperar. Aqui, aprendi como fazer massagem, manusear o leite, fazer a pega. Coisas que eu nem tinha ideia", conta.
Jessita Pereira, 28 anos, fala com a voz embargada que o filho está recebendo toda a alimentação pelo banco de leite, pois ela não estava produzindo. "O trabalho dessa equipe é essencial. Sem esse alimento meu filho não estaria aqui. É muito especial pra mim celebrar esse momento com a SES-DF.”
Uma vida dedicada ao aleitamento
Técnica em gestão de saúde, Osirene Ribeiro da Silva tem 24 anos de história no BLH do HRT e já perdeu as contas de quantas mulheres e crianças amparou: "Ajudar esse binômio [mãe e bebê] é uma ação indescritível. Colaborar com a saúde básica, pois um bebê alimentado corretamente sai da fila do SUS [Sistema Único de Saúde], não tem preço", afirma, e ainda ressalta que se sente agraciada por participar de um projeto como esse.
Mesmo aposentada, Marli Leite Borges, continua amiga e apoiadora do Banco de Leite. "Dediquei dez anos da minha história na enfermagem à unidade e foi um dos lugares mais gratificantes em que estive.", relata.
Como doar
Só no primeiro semestre de 2023, as doações recebidas pela rede pública de saúde nutriram quase 8 mil bebês. Foram coletados cerca de 11 mil litros de leite, volume que superou em 14% o mesmo período de 2022. Mas para continuar funcionando, a unidade depende de doações mensais.
Para agendar uma visita do CMBF, basta ligar no telefone 160 [opção 4] ou realizar o cadastro no site do programa Amamenta Brasília. A equipe do banco de leite mais próximo entrará em contato para marcar uma visita dos bombeiros, que já levam um kit com máscara, touca e potes esterilizados.
Santos explica que doar o leite materno excedente é mais fácil do que muitas mães pensam. “Um erro comum é achar que o frasco precisa ser preenchido de uma só vez com o alimento”, aponta a coordenadora de Políticas de Aleitamento Materno. “Na verdade, a mulher tem até dez dias para encher o pote”. Para isso, é preciso completar o frasco mantido no congelador com a ajuda de um copo de vidro, conforme o leite for retirado. Um pote com cerca de 300 ml do alimento pode garantir a nutrição de até dez recém-nascidos.