Hanseníase
JANEIRO ROXO - Pense em Hanseníase
VOCÊ SABIA?
Por meio da Lei nº 9.010, de 29 de março de 1995, o termo lepra foi abolido e proibido de ser utilizado no emprego de documentos oficiais. A doença passou, oficialmente, a ser chamada de HANSENÍASE.
O QUE É?
A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa, de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen) que pode acometer qualquer pessoa, de independente de raça/cor, idade, classe social. Afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, as mucosas e, em alguns casos, os olhos, causando alteração, diminuição ou perda de sensibilidade térmica (frio e calor), dolorosa, tátil, além de força muscular.
A transmissão ocorre pelo contato direto pessoa a pessoa, sendo favorecida pelo convívio de doentes não tratados com outras pessoas. O período de incubação, tempo entre a aquisição a doença e da manifestação dos sintomas, varia em média de seis meses a cinco anos.
A suspeição da hanseníase é feita pela equipe de saúde e pelo próprio paciente. Por isso, PENSE EM HANSENÍASE e esteja atento aos sinais que seu corpo apresenta ou aos relatos e queixas dos pacientes.
Apesar de difícil, é necessário falar sobre o assunto, pois a hanseníase tem cura e o tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas, se não tratada, pode deixar sequelas e ocasionar incapacidades importantes, tais como lesões neurológicas e deformidades físicas.
DEFINIÇÃO DO CASO
Considera-se um caso de hanseníase a presença de um ou mais dos seguintes critérios, conhecidos como sinais cardinais da hanseníase:
Após a conclusão diagnóstica a partir do exame clínico e/ou baciloscópico, os casos de hanseníase devem ser classificados para fins de tratamento.
TRANSMISSÃO
A transmissão da hanseníase ocorre quando uma pessoa com a forma infectante da doença, sem tratamento, elimina o bacilo pelas vias aéreas superiores por meio de espirros, tosse ou fala, infectando indivíduos suscetíveis.
A hanseníase não é transmitida por meio de apertos de mão, abraços, compartilhamento de objetos ou por sentar-se no mesmo local que alguém contaminado, por exemplo. O contato próximo e prolongado é necessário para a transmissão.
PORTANTO: durante o atendimento dos pacientes com suspeita de hanseníase, não se faz necessário o uso de máscaras ou demais EPIs, sendo adotada somente a precaução padrão.
A cadeia de transmissão é interrompida a partir de ações como:
1. Diagnóstico precoce;
2. Identificação dos cenários com maior incidência e prevalência de casos;
3. Tratamento adequado.
SINAIS E SINTOMAS
Os sintomas da hanseníase podem variar de pessoa para pessoa, podendo incluir:
- Manchas na pele (brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas) com alterações ou perda na sensibilidade térmica (calor e frio), dor ou tato.
- Sensações de formigamento, agulhadas, câimbras ou dormência nos braços ou pernas.
- Fraqueza muscular, especialmente em mãos e pés, com dificuldade para pegar ou segurar objetos e usar calçados abertos.
- Nódulos ou lesões de pele que podem ser indolores ou podem ulcerar (virar feridas abertas).
- Engrossamento e dor nos nervos, feridas de difícil cicatrização (principalmente em mãos e pés).
- Áreas da pele muito ressecadas, com queda de pelo e/ou que não apresentam suor, ou caroços pelo corpo;
- Coceira, secura, dor ou irritação nos olhos;
- Sangramentos, feridas ou entupimento do nariz.
* FORMA NEURAL PURA (PNL): atenção aos casos em que pacientes apresentam comprometimento neural (perda de sensibilidade, parestesias, espessamento ou endurecimento de nervos, fraqueza muscular, paralisia facial) sem lesões cutâneas. Essa forma de hanseníase entre 3% e 10% dos pacientes, podendo ocorrer em qualquer espectro, mas é mais comum no tipo tuberculoide.
É fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos a esses sinais, promovendo a detecção precoce da doença, medida crucial para evitar complicações e transmissões.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito por profissional de saúde de nível superior atuante na assistência e envolve a avaliação clínica dermato-neurológica do paciente, por meio de testes de sensibilidade, palpação de nervos, avaliação da força motora, estruturada na Avaliação Neurológica Simplificada (ANS).
Se necessário, é realizada a baciloscopia, que corresponde à coleta da serosidade cutânea, colhida em orelhas, cotovelos e da lesão de pele, e ainda pode ser realizada biópsia da lesão ou de uma área suspeita.
BACILOSCOPIA: não é parâmetro para diagnóstico nem para cura, porque resultados negativos não afastam diagnóstico se a clínica é compatível, bem como resultados positivos podem se apresentar após o término de tratamento.
SAIBA MAIS: Guia de procedimentos técnicos - Baciloscopia em Hanseníase
CLASSIFICAÇÃO
PAUCIBACILAR (PB): caracteriza-se pela presença de uma a cinco lesões cutâneas e baciloscopia obrigatoriamente negativa ou pelo comprometimento de apenas um nervo periférico.
- Indeterminada: forma inicial da doença, surgindo com manifestações discretas e menos perceptíveis. Caracterizada por manchas na pele hipocrômicas, sem alteração de relevo ou textura de pele, e não há comprometimento de nervos periféricos.
Fonte: PCDT Hanseníase - 2022
- Tuberculoide: multiplicação bacilar limitada e não detectável pela baciloscopia do esfregaço intradérmico, devido à intensa resposta inflamatória, com apresentação de lesão cutânea única e bem delimitada.
Fonte: PCDT Hanseníase - 2022
MULTIBACILAR (MB): caracteriza-se pela presença de mais de cinco lesões de pele e/ou baciloscopia positiva e/ou comprometimento de mais de um nervo periférico.
- Virchowiana: acomete indivíduos com resposta imune inadequada, o que resulta na multiplicação intensa dos bacilos que podem ser facilmente detectáveis na baciloscopia e na biópsia cutânea.
Fonte: PCDT Hanseníase - 2022
- Dimorfa: forma clínica mais incapacitante da hanseníase, situa-se entre os polos tuberculoide e virchowiano, os quais são opostos no espectro clínico e baciloscópico da doença, apresentando características imunológicas mistas e sinais intermediários em relação às descrições anteriores, como comprometimento assimétrico e múltiplo dos nervos periféricos, reações inflamatórias nas lesões de pele e neurite aguda, com deformidades visíveis.
Fonte: PCDT Hanseníase - 2022
Na dúvida, trate como MB!
TRATAMENTO
Hoje, o tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), visando que a doença deixe de ser um problema de saúde pública. Envolve a associação de três antimicrobianos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, associação denominada Poliquimioterapia Única (PQT-U). O tempo de uso varia de seis meses nas formas paucibacilares a um ano nos multibacilares, podendo ser prorrogado ou feita a substituição da medicação em casos especiais. O tratamento é eficaz e cura. Após a primeira dose da medicação não há mais risco de transmissão durante o tratamento e o paciente pode conviver em meio à sociedade.
CONTATO DE HANSENÍASE
Toda pessoa que tenha residido ou mantido convivência com um paciente diagnosticado com hanseníase, no contexto domiciliar, nos últimos cinco anos anteriores ao diagnóstico, independentemente de ser familiar ou não, deve ser identificada como contato.
Esses contatos devem ser registrados no prontuário do paciente diagnosticado e devem ser convocados pela unidade de saúde para passar pela avaliação da ANS. Devem ainda ser monitorados pelo menos anualmente durante cinco anos, com os devidos registros em prontuário próprio.
É fundamental orientar os contatos sobre os sintomas da doença e a importância de procurar uma unidade de saúde caso apresentem sinais suspeitos.
VACINA BCG PARA CONTATOS
Contatos prolongados de portadores de hanseníase devem realizar vacinação seletiva, conforme especificado na Instrução Normativa do Distrito Federal para o Calendário Nacional de Vacinação/2024 da SESDF.
ESQUEMA VACINAL ESPECIAL PARA CONTATOS | ||
Cicatriz vacinal/registro | Menores de 1 ano de idade | A partir de 1 ano de idade |
Não vacinados | Administrar 1 dose de BCG. | |
Comprovadamente vacinados | Não administrar outra dose de BCG. | Administrar 1 dose de BCG. |
Comprovadamente vacinados sem cicatriz |
Administrar uma dose de BCG seis meses após a última dose. |
Administrar 1 dose de BCG. |
Uma cicatriz de BCG | Administrar outra dose de BCG, com intervalo mínimo de seis meses após a dose anterior. |
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Duas cicatrizes de BCG | Não administrar outra dose de BCG | Não administrar outra dose de BCG |
Gestantes, pessoas imunossuprimidas, com tuberculose ativa, com sintomas de hanseníase ou vacinadas recentemente |
Contraindicado. Crianças imunossuprimidas poderão, a critério médico, receber a BCG até 4 anos, 11 meses e 29 dias. |
Contraindicado. |
CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO DF
O Brasil é o 2° país em número de casos da doença e responde por 92% dos casos das Américas, apesar de ser uma das doenças mais antigas que acometem a humanidade.
Atualmente, os países com maior detecção de casos são os menos desenvolvidos ou com superpopulação.
O Distrito Federal é classificado como parâmetro médio da taxa de detecção de hanseníase (número de novos casos diagnosticados por 100.000 habitantes) em comparação com os dados nacionais e regionais do Brasil. Contudo, há Regiões Administrativas (RA) classificadas como parâmetro muito alto de taxa de detecção, tais como: Estrutural, Paranoá e Varjão; e como parâmetro alto de taxa de detecção: Fercal, Itapoã, Sobradinho, Cruzeiro, Vicente Pires e Sobradinho II.
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
Conforme parametrizado por meio da Portaria nº 508, de 26 de dezembro de 2023, que atualiza a Lista Distrital de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública para fins de vigilância epidemiológica no Distrito Federal, a hanseníase se encontra no rol daquelas que devem ser notificadas semanalmente.
ORIENTAÇÕES IMPORTANTES AOS PROFISSIONAIS:
- Notifique apenas casos CONFIRMADOS (pessoa que apresenta uma ou mais das seguintes características e que requer poliquimioterapia: lesão (ões) de pele com alteração de sensibilidade; acometimento de nervo (s) com espessamento neural; baciloscopia positiva)
- Atualize mensalmente a aba “Acompanhamento” (especialmente os campos 11 – data do último comparecimento; 15 – número de doses supervisionadas);
- Nos casos de transferência para outro Estado, altere o campo 19 – Tipo de saída.
PILARES DA ÁREA TÉCNICA DE HANSENÍASE NO ENFRENTAMENTO À DOENÇA
- CONHECER: Conhecer a hanseníase é o primeiro passo para combatê-la de forma eficaz. Esse pilar envolve a disseminação de informações sobre a doença, seus sinais, sintomas, formas de transmissão, grupos mais vulneráveis e o incentivo aos profissionais sobre PENSAR EM HANSENÍASE e sobre seu relevante papel na vigilância epidemiológica, uma vez que esse eixo é parte integrante dos processos assistenciais. O conhecimento, por meio da qualificação, capacitações, treinamentos e matriciamentos, é primordial para a identificação precoce e para o enfrentamento do estigma relacionado à doença. A educação da população e dos profissionais de saúde sobre o tema contribui para a redução do preconceito e da negligência com as pessoas vivendo com hanseníase, além de possibilitar a detecção de casos de forma mais rápida, não somente aqueles com manifestação dermatológica, mas as formas neurais também. Em termos temporais, o conhecimento é um processo contínuo, com ênfase na educação em saúde, treinamento profissional e a atualização de estratégias de comunicação.
- DIAGNOSTICAR: O diagnóstico precoce da hanseníase é crucial para evitar o agravamento da doença e a disseminação para outras pessoas. O pilar 2 está relacionado à capacidade do SUS-DF em identificar a doença nos seus estágios iniciais, quando já é passível de tratamento, cura e interrupção da cadeia de transmissão. A detecção precoce evita complicações físicas graves, como deformidades, incapacidades motoras e perda sensorial e viabiliza melhor qualidade de vida desses pacientes, indo ao encontro inclusive do princípio da economicidade, uma vez que há menor demanda do uso de níveis de atenção mais complexos e mais dispendiosos para o sistema. O diagnóstico deve ser feito por meio de avaliação clínica detalhada, exames clínicos - primordialmente (o que reforça o pilar 1) e por testes laboratoriais.
- TRATAR: O tratamento da hanseníase envolve o uso de poliquimioterapia única (PQTU), um regime terapêutico altamente eficaz e acessível, que combina antibióticos para eliminar até 99% dos bacilos na primeira dose. Deve ser iniciado o mais precocemente possível no momento do diagnóstico para garantir que a infecção seja tratada, para que o paciente deixe de ser transmissor e para prevenir o surgimento de incapacidades. A adesão ao tratamento depende de um acompanhamento contínuo, garantindo que o paciente complete a terapia até a cura e seja reavaliado sistematicamente durante a terapia (falhas terapêuticas, reações hansênicas, abandono etc.). Esse pilar também é crucial na orientação e apoio psicossocial aos pacientes, além de medidas para prevenir novas infecções entre os contatos. O tratamento não é apenas farmacológico, mas também deve englobar suporte emocional e educação em saúde, promovendo a reintegração social do paciente.
- CURAR: A cura da hanseníase é o resultado desejado de um ciclo eficaz que começa com o conhecimento, passa pelo diagnóstico precoce e pelo tratamento contínuo e adequado. A cura não significa apenas a eliminação da bactéria, mas também a recuperação do bem-estar físico e psicológico do paciente. Embora o conceito de cura envolva também a prevenção de sequelas, como lesões neurológicas e deformidades, esta área técnica não deixa de encarar as questões atinentes à estigmatização, à discriminação e à segregação social como temas a serem combatidos (e, quiçá, curados!) por meio da informação, do conhecer, fechando-se assim, o ciclo dos pilares.
A adoção do ipê roxo se justifica por aquilo que representa perfeitamente o espírito da campanha: força, esperança e conscientização, unindo a sociedade em torno do fim do preconceito e dos esforços e cuidado em prol de quem enfrenta a hanseníase. Como o ícone da área simboliza:
- Força e resistência – assim como o ipê roxo cresce em climas quentes e adversos, a hanseníase muitas vezes afeta populações vulneráveis que vivem em condições socioeconômicas precárias. Ainda assim, o diagnóstico precoce e o tratamento gratuito pelo SUS refletem a força e a resistência das pessoas que enfrentam a doença, superando desafios para garantir a cura e a reintegração à sociedade;
- Renovação e esperança – o ipê roxo floresce no final do período seco, marcando a chegada das chuvas e a renovação da natureza. Essa característica simboliza a esperança de quem inicia o tratamento da hanseníase, pois a cura é possível, permitindo às pessoas renovarem suas vidas e deixarem para trás o estigma associado à doença. pois em muitas regiões o ipê floresce no final do período seco, sinalizando a chegada das chuvas e a renovação da natureza; e
- Alusão à atenção – essa árvore floresce apenas uma vez ao ano, cobrindo-se de flores vibrantes que chamam a atenção. Essa singularidade reflete a necessidade de atenção ao diagnóstico precoce da hanseníase, incentivando as pessoas a buscarem ajuda médica ao notar sintomas como manchas na pele com perda de sensibilidade. Assim como o ipê se destaca no cenário natural, a campanha Janeiro Roxo busca destacar a importância do combate à hanseníase e à desinformação.
PREVENÇÃO
A melhor forma de prevenção é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, assim como o exame clínico e a indicação de vacina BCG para melhorar a resposta imunológica dos contatos do paciente. Desta forma, a cadeia de transmissão da doença pode ser interrompida. Os contatos de pacientes com hanseníase devem realizar o teste rápido, que detecta anticorpos IgM contra o antígeno PGL-1 do M. leprae, tanto em amostras de soro humano como em sangue total, visando um melhor acompanhamento e seguimento.
Cidadão, na dúvida, PENSE EM HANSENÍASE e procure a unidade de saúde mais próxima!
Profissional, na dúvida, PENSE EM HANSENÍASE e conte com a equipe multiprofissional na elucidação diagnóstica e estabelecimento de medidas precoces.