06/08/2021 às 15h59

Transplante de córnea: entenda como funciona o procedimento

Procedimento considerado complexo é indicado somente em casos extremos

Banco de olhos funciona no Hospital de base - Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

 

JURANA LOPES, DA AGÊNCIA SAÚDE-DF

 

O transplante de córnea é o procedimento cirúrgico que permite a substituição total ou parcial da parede anterior do olho diante de doenças que atingem córnea e levam à cegueira. Possui alta demanda no Distrito Federal porque aqui há uma estrutura pública organizada e alinhada com as normas do Ministério da Saúde, chamada Central Estadual de Transplantes. Ao contrário do que muita gente imagina, esta cirurgia é altamente complexa e indicada somente nos casos em que nenhum outro tratamento da córnea pode ajudar na recuperação da visão do paciente.

 

De acordo com Micheline Borges Lucas Cresta, médica oftalmologista responsável técnica pelo Banco de Olhos do DF, existem pacientes que apresentam doenças da córnea, a principal delas é o ceratocone, tendo também algumas distrofias, degenerações e cicatrizes. São doenças que são acompanhadas durante vários anos e com constantes avaliações oftalmológicas, em que os profissionais tentam conduzir sem que haja de fato a necessidade do transplante.

 

“O transplante é a última alternativa, quando a gente já não tem nenhum recurso para reabilitação da visão do paciente com um problema na córnea. O transplante de córnea é de alta complexidade porque existem altos riscos de complicação. Por isso que existe toda uma fiscalização do Ministério da Saúde para credenciamento de centros cirúrgicos, clínicas e equipes de transplante, que são altamente qualificadas”, informa.

 

A oftalmologista explica que a córnea é a parede anterior do globo ocular (um tecido totalmente transparente), com formato que lembra uma lente de contato. Quando é feito o transplante de córnea, que pode ser penetrante ou lamelar, usa-se um instrumental cirúrgico adequado chamado trépano de forma cilíndrica regular, retira-se essa parede anterior e substitui pelo tecido transplantado.

 

“Durante este procedimento existem riscos elevados de perda do conteúdo ocular. Não é uma cirurgia simples, por isso que a gente só indica em último caso, se realmente for necessário, o último recurso de um paciente com doença na córnea”, reitera.

 

Para entrar na fila de espera por um transplante de córnea, os pacientes precisam se consultar com os médicos especialistas em córnea e transplante que são inscritos como transplantadores e pertencem a um centro transplantador inscrito na Central Estadual de Transplantes (CET). O paciente aguarda numa fila que é única por estado e a média de tempo de espera tem sido de 1 ano a 11 meses no DF por conta da pandemia, no passado esta fila já foi de menos de 3 meses.

 

Para que os transplantes ocorram e os pacientes fiquem menos tempo aguardando numa fila, o Banco de Olhos do DF trabalha 24h, incansavelmente, abordando famílias que perdem entes queridos, no momento mais difícil que é entre 6 e 12 horas após o óbito (prazo estipulado em lei para doação de córneas) em busca de uma doação que ajude duas pessoas a voltarem a enxergar.

 

Riscos

 

Há riscos em relação ao transplante no transoperatório, no pós-operatório imediato e no pós-operatório tardio. Geralmente no transplante de córnea penetrante o paciente leva 16 pontos na cirurgia. O acompanhamento no primeiro ano é essencial para que o médico avalie como o olho reagiu ao transplante.

 

“É pelo menos um ano até a gente ter o resultado do transplante penetrante. A visão costuma ficar muito melhor do que antes, mas é imprevisível o grau que olho vai ter . Então, o resultado final mesmo só teremos depois de um ano”, afirma.

 

Micheline destaca que os pacientes podem desenvolver uma rejeição até o final da vida, além de também poderem desenvolver uma alteração chamada falência do transplante, que pode ser primária, quando a qualidade do tecido por algum motivo não foi adequada para a necessidade do paciente.

 

“Neste caso, a gente precisa refazer o transplante nos primeiros três meses. E tem a falência do transplante secundária, que é o que acontece com todos os transplantados um dia, porque o transplante de córnea não é eterno, o tecido transplantado tem uma duração média de 20 anos, podendo ser um pouco mais ou um pouco menos”, explica.

 

Quando a gente realiza transplante, ele pode ser feito com anestesia geral ou com bloqueio anestésico mais sedação. Existem transplantes eletivos e os casos de urgência que são outras alterações como perfuração ocular e lesões infecciosas graves como a úlcera de córnea que vão demandar um transplante de urgência.

 

O acompanhamento é feito no dia seguinte, depois mensalmente, até completar um ano, é a maneira de detectar as alterações ou possíveis perdas de tecido, além de contornar e prevenir complicações. Só ao fim de um ano será possível identificar a visão final e a necessidade de utilizar óculos.

 

Hoje, no DF são realizados transplantes de córnea pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital de Base (HBDF), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Instituto de Cardiologia (ICDF).

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